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É bem difícil fazer uma lista de gostos pessoais sobre um país sem entrar nos clichês. E é mais difícil ainda fazer uma lista que encontre unanimidade entre os leitores. Já estou ciente disso e sei que vai aparecer entre os comentários alguém com algum link e/ou história e/ou opinião diferente da minha. Fiquem à vontade para compartilhar suas experiências. Mas já deixo claro que esta lista é bastante pessoal e não tem a intenção de ser completa. 5 (adoro) + 5 (odeio) = 10 coisas.
É bem difícil fazer uma lista de gostos pessoais sobre um país sem entrar nos clichês. E é mais difícil ainda fazer uma lista que encontre unanimidade entre os leitores. Já estou ciente disso e sei que vai aparecer entre os comentários alguém com algum link e/ou história e/ou opinião diferente da minha. Fiquem à vontade para compartilhar suas experiências. Mas já deixo claro que esta lista é bastante pessoal e não tem a intenção de ser completa. 5 (adoro) + 5 (odeio) = 10 coisas.
1) Adoro poder andar de bicicleta
Sim, uma das coisas de que mais gosto na Alemanha é a possibilidade de andar de bicicleta sem medo de morrer na próxima esquina atropelado por um motorista imprudente. A cidade onde moro atualmente (Bremen) é praticamente toda com ciclovia, além de ser superplana (infelizmente, o fato de uma cidade ser plana é pura sorte mesmo rsrsrs). Os mais de 7 quilômetros até o trabalho parecem moleza, já que a maior parte do trajeto (uns 4km) é feito por uma ciclovia ao lado de um parque, com sombra e sem nenhum cruzamento. Tem coisa melhor? :-)
No Brasil eu tive bicicleta só na minha adolescência, pois morava em cidade pequena. Nunca tive coragem de andar de bicicleta em Fortaleza. :-(
2) Adoro a segurança
Pra quem vem de uma cidade grande do Brasil, a primeira grande diferença que você sente é na segurança. Poder ir e voltar de casa sem aquele medo de ser roubado é algo realmente sem preço. Entrar numa rua escura teclando num celular de última geração sem medo de que alguém diga "Perdeu, playboy" ou ver mulheres levando o seu cachorro pra passear num parque à noite sem o constante medo de serem violentadas e/ou assaltadas não tem preço mesmo. Para todas as outras coisas existe Mastercard rsrsrs
Lá vem o baba-ovo... não é isso... É claro que existem estupros também. E é claro que existem roubos e furtos (Furto de bicicleta, por exemplo, é bem comum). Ah, e existem os neonazis também. Mas comparar os números de roubos violentos, estupros, assaltos à mão armada e assassinatos da Alemanha com outros países da América Latina (ou até mesmo com os EUA) é muito injusto, pois os números são muito baixos. Não estou aqui para discutir as razões que levam um país e/ou cidade ter mais violência que outros. Só estou dizendo que a Alemanha é um país bastante seguro (e isso não é babar ovo dos alemães). Psicopatas, xenófobos, estupradores etc. estão em qualquer lugar e você pode ter o azar de se estar no lugar errado na hora errada, mas pode-se afirmar que a Alemanha é um país seguro e que você pode andar a qualquer hora do dia ou da noite, voltar pra casa a pé da balada, sem medo da violência, roubos, assaltos etc.
Isso inclui também as mulheres. Morei com duas alemãs que sempre saíam sozinhas à noite em parques para levar o cachorro pra passear sem medo nenhum e sem nunca presenciar nenhuma cena que as fizesse ter medo e isso num bairro com altíssimo número de imigrantes (só para citar que não são só os alemães que conseguem se comportar por aqui).
3) Adoro poder ser eu mesmo
Outra coisa que eu adoro na Alemanha é poder ser quem eu quiser.
Cenas de um bonde alemão |
Tem coisa mais legal do que entrar no supermercado e ver que o rapaz/a mulher que trabalha no caixa tem piercing no nariz, cabelo pintado de azul/verde/rosa, um alargador na orelha e MESMO ASSIM foi aceito na entrevista de emprego e não precisa trabalhar como tatuador (o único posto de emprego que ele/ela talvez conseguisse no Brasil)? Muitas empresas aqui pedem currículos SEM FOTO para que a pessoa não seja discriminada pela aparência antes de ter suas competências analisadas.
Pois é. Na Alemanha, aprendi a conviver com pessoas das mais diferentes tribos. E não... nem os góticos, nem os emos, nem os punks nem ninguém precisa se esconder. Em Leipzig, a cena alternativa é gigantesca e há um festival gótico todo ano. Em Berlim, você pode andar todo desleixado, pode andar com uma roupa/óculos do seu avô/avó feito um hipster, pode usar uma dessas peças de roupa bizarras de desfile de moda, a não ser que você ande com uma fantasia de ursinhos carinhosos, ninguém vai ligar muito pra sua aparência. É claro que isso funciona melhor em cidades grandes. Em vilarejos, o pessoal deve te olhar dos pés à cabeça (creio eu).
Pra falar a verdade, eu nunca entendi muito de moda mesmo, então me sinto à vontade por aqui. Às vezes tenho que ouvir uns puxões de orelhas de amigos brasileiros dizendo que não se usa tênis com meia escura kkkkk mas como eu vou saber disso se aqui na Alemanha ninguém liga pra isso? :-)
Não estou dizendo que a Alemanha é a terra do "tudo pode". Um pouco de bom senso não faz mal a ninguém. As dicas que aprendi no Brasil ainda me fazem aparecer numa entrevista de emprego bem arrumado e de barba feita. Não preciso ir pra entrevista feito mendigo, né? Mas é legal poder ir ao supermercado e ver um monte de gente de capas pretas indo fazer compras e não serem tratados feito E.T.'s. Eu não uso essas roupas, mas acho legal que as pessoas aqui têm essa liberdade.
Na(s) (maioria das) cidades grandes da Alemanha, um casal de gays pode andar de mãos dadas na rua, pode beijar.. não, ninguém vai ligar. É claro que há ainda homofóbicos (como em todo lugar), mas aqui as leis proíbem qualquer discriminação. Se você sofrer uma violência por racismo ou homofobia, a polícia vai te tratar como cidadão e não vai fazer comentários do tipo "Bem feito, viadinho". Antes de serem contratadas, as pessoas assinam termos de compromisso que não vão cometer nenhum ato OU COMENTÁRIO discriminatório em relação a raça, origem, religião, orientação sexual etc. no trabalho.
4) Adoro as 4 estações
Nem toda neve é legal... só avisando. |
Tá... reconheço esse é um "adoro" em partes.
Sou cearense, isso todo mundo já sabe. Nasci indo pra praia todo fim de semana com a família. Nasci num lugar onde a temperatura mínima praticamente nunca chega nem aos 20 graus. Tem dias quentes e dias muito quentes. É claro que, como todo bom brasileiro, eu sonhei muitos anos em ver a neve e tal. E ninguém aguenta calor dos infernos todo dia a vida toda, né? Eu pelo menos, não.
É legal poder ver as pessoas se adaptando conforme as estações vão passando. Não é só o espetáculo da natureza que é lindo durante todas as estações, mas pessoas também vão mudando junto com elas. Eu costumo contar o ano a partir do outono (talvez por eu sempre ter vindo pra Alemanha no outono pra começar a estudar). No outono os dias são mais frescos. Dá pra sair de casa com um pulôver leve e uma calça jeans. É lindo ver as folhas caindo e as árvores mudando de cor. Nessa época as pessoas ainda saem na rua a qualquer sinal de sol e o mundo parece em ordem. Quando chega o inverno, a neve, a escuridão, as pessoas somem da face da Terra. Sair de casa com mil quilos de roupa, trazer mil quilos de sujeira nos sapatos por conta da neve espalhada nas ruas, pessoas de mau humor, ruas vazias. Sem falar que os bares ficam abarrotados de gente, já que ninguém quer sair no frio, as portas se fecham e fica todo mundo naquele mundinho de fumaça de cigarro e conversas. Confesso que já fui mais feliz com a neve, mas hoje em dia a única coisa que me atrai nessa época é o Natal, as feiras natalinas e a chance de tomar um vinho quente com amigos passando frio na rua. Mas janeiro e fevereiro são meses muito tristes. (por isso que eu digo que é um ADORO mais ou menos - acho que o inverno poderia ser mais curto).
Outono em Bremen |
Mas o legal é ver a primavera chegando. É incrível ver as pessoas saindo de casa como se tivessem saído da hibernação. Aparece tanta gente na rua, o bom humor volta. O canto dos pássaros parece anunciar o bom humor das pessoas. E o verão é aquela época onde todo mundo reclama do calor... ninguém quer fazer nada por causa do calor e metade do país viaja para algum lugar para aproveitar o calor torrando ao sol, nadando, fazendo churrasquinhos em parques ou não fazendo nada.
Como vocês veem, as mudanças que as estações causam nas pessoas é o que mais me fascina, e é por isso que, apesar de hoje em dia eu AMAR o clima de Fortaleza quando vou passar férias, eu adoro ter as quatro estações. Só lamento o verão ser sempre tão curto.
5) Adoro poder ser professor na Alemanha
Estudei para ser professor. Claro que eu poderia também trabalhar com outras coisas, mas eu sempre gostei de dar aula. No Brasil tive experiência em escola pública, escola particular e cursos de língua, tanto para adolescentes quanto para adultos. Depois de todas as experiências, percebi que dar aulas para adultos era o que mais combinava comigo. Maaaaaas, mesmo sendo formado e tendo experiência no exterior, ser professor de línguas no Brasil está longe de ser uma profissão bem remunerada ou reconhecida. Horas/aula que nunca acompanham a inflação (ou seja, permanece a mesma por anos a fio) além de ter toda a pressão das escolas sobre o professor. Ou seja, como professor eu era o culpado de todo o sucesso e fracasso dos meus alunos: eu tinha que dançar, cantar, representar, pular, fazer jogos, ter ideias criativas, dar um show de aula. Mesmo assim, se um aluno não aprendesse a culpa era minha. Se ele desistisse do curso (por qualquer motivo, até mesmo por não poder mais pagar o curso) a culpa era MINHA. Sim, há escolas de idiomas que fazem escalas de quantos alunos se mantêm no curso de acordo com o professor. Ou seja, a todo momento vem uma pressão de que você pode ser o próximo a perder o emprego caso seus alunos não se matriculem no semestre seguinte. Eeeeee... se quiser conseguir pagar todas as contas, o melhor é trabalhar os três turnos. De preferência à noite e aos sábados porque são quando as pessoas têm tempo livre para fazer curso de línguas. Eu era feliz? Era. Estava fazendo o que gostava. Mas isso é a única coisa que mantém os professores na profissão. O amor pela profissão... pois se fosse pelo reconhecimento profissional, estaríamos fritos.
Mas vejamos agora na Alemanha...
Na Alemanha a profissão de professor não é a mais procurada, mas tem um reconhecimento social ainda bastante grande. Dizer "Ich bin Lehrer" ainda é tido aqui como "Uau, você é PRO-FES-SOR" e não como "Não conseguiu fazer outro curso?". Professores aqui não têm os melhores salários do universo. É claro que médicos, engenheiros, advogados ganham bem mais. Mas professores aqui não precisam trabalhar três turnos para sobreviver. O valor pago é suficiente para uma pessoa ter uma vida sem muitos apertos financeiros. Claro que é uma coisa que depende de sorte e de demanda, mas estou falando sobre empregos fixos. Professores que trabalham sem contrato fixo podem passar por bons apertos financeiros e tenho vários colegas que ainda lutam pra conseguir um emprego fixo como professor. (Além disso, os salários dos professores também não são aumentados sem pressão dos sindicatos... é claro que não há greves de meses por aqui - pelo menos nunca ouvi falar de uma - mas às vezes há protestos de crianças (sim, crianças) e jovens lutando por benefícios para professores/escolas/universidades.. ou seja, o percurso democrático é o mesmo.. um pouco de pressão pra que se invista em educação).
Bem, o sistema de ensino da Alemanha tenta ao máximo dar autonomia pros alunos. Ou seja, os alunos desde a escola tentam assumir responsabilidade sobre o próprio aprendizado. Então essa grande pressão sobre os professores como salvadores da pátria é dividida entre todo mundo: família, alunos, escola etc. Num grupo de alunos adultos, minha experiência mostra como os alemães puxam a responsabilidade para si por seu próprio sucesso ou fracasso. Sendo assim, eu apenas tento dar a minha aula da melhor forma possível e cumprir com meu papel de orientador do aprendizado e não de professor-detentor do conteúdo bzw. fazedor de milagres. Existem aulas chatas? Professores desmotivados? Existem também, com certeza. Mas como eu aprendi a dançar, pular, cantar e ser criativo, minhas aulas aqui têm uma mistura das melhores coisas que aprendi como professor no Brasil aliadas ao jeito autônomo que os meus alunos alemães têm. Não sou perfeito como professor, mas desta forma, me sinto super-realizado como professor de adultos aqui. A instituição me dá total liberdade para trabalhar como quero e nossas reuniões de professores servem como troca de informações sobre formas de trabalho, novas concepções didáticas etc. Posso afirmar que atualmente tenho trabalhado realmente naquilo que gosto de fazer e nunca vou ao trabalho chateado, com raiva, desmotivado... :-) Sonho também em ver os meus colegas do Brasil tendo condições humanas de trabalho.
Não sei como é para as outras profissões, mas como professor eu tenho condições de trabalho bem melhores aqui (na Alemanha). Acho que esse é um dos principais fatos que me fazem preferir morar aqui. :-)
Vamos agora às críticas:
1) Odeio a burocracia
Uma das coisas que mais odeio aqui é a BUROCRACIA, especialmente o apego exacerbado dos alemães por papéis. Sim, tudo tem que ser por escrito. Cancelamento por telefone? Esqueça. Aqui tudo tem que ser POR ESCRITO. E tem que ser pelo correio, de preferência, pois só é válido o que foi escrito e arquivado em alguma gaveta de algum departamento. Sim, meu caro, quando você se mudar você tem que enviar mil cartas cancelando toda a sua vida, avisando seu novo endereço etc.
E se você precisar tratar algo pessoalmente, ainda tem as Sprechstunden (horário de atendimento). Sim, aquela pessoa da faculdade que pode te dar aquele papel de que você está precisando só atende às quartas-feiras das 8:23 às 9:23. E quando você chegar lá vai ter uma fila. E quando der 9:24 ela vai dizer que o horário de atendimento acabou. "Voltem na próxima semana!".
Só me lembro do dia em que precisei me formar na faculdade. Eu tinha que conseguir um papel para "Exmatrikulation". Chego na Sprechstunde, espero uma meia hora pra ser atendido e a mulher diz: "Pra conseguir a confirmação de "Exmatrikulation" você precisa uma confirmação do seu seguro de saúde de que você não tem mais seguro de estudante. Chegando no meu seguro de saúde, ouvi que eles só deixariam de me dar seguro de estudante quando eu saísse oficialmente da faculdade, ou seja, eu precisaria do papel da "Exmatrikulation". Aaaaaaaaahhhhhh... e assim você fica indo de um lado pro outro tentando juntar um monte de papéis pra mostrar em algum outro departamento.
Sim, resumindo, Asterix e Obelix mostram perfeitamente como tudo funciona na Alemanha (se quiser continuar lendo o texto, tudo bem, mas não deixe de ver o vídeo abaixo depois de terminar)
Tem burocracia no Brasil? Claro que tem também. Mas essa é vez de eu reclamar da Alemanha heheheh
2) Odeio o imposto sobre rádio/TV
Tem coisa mais absurda do que você ser COBRADO pra ter o direito de assistir TV? Sim, a Alemanha tem alguns canais financiados pelo governo, por isso, cada casa tem que pagar atualmente € 17,98 euros por MÊS para ajudar a financiar esses canais de TV e algumas emissoras de rádio. E não importa se você assiste ou não aos canais, ou se você tem TV. Hoje em dia a cobrança é obrigatória para TODAS as casas/apartamentos. Tudo bem que seja cobrado algo, mas ouvi dizer que na Áustria é feito da seguinte forma: quem não paga, não recebe o sinal desses canais de TV patrocinados pelo governo. Seria tão mais justo. Eu mal assisto TV :-( E eles ainda têm a cara de pau de chamar isso de "contribuição" (Beitrag). Se fosse contribuição, ninguém receberia cartas de ameaça por não-pagamento, né? O jeito é engolir o choro e pagar.
Há uma estudante de doutorado que publicou recentemente sua tese de que essas cobranças são inconstitucionais. Espero que consigam derrubá-las no futuro.
Para saber mais sobre a tese, clique aqui.
Eu fico extremamente p... da vida com essa cobrança.
(E pra piorar um monte de vídeo é bloqueado no Youtube na Alemanha... PQP! Preferia que usassem esse dinheiro pra liberar os vídeos do que pra financiar esses canais de TV rsrsrs)
3) Odeio a incapacidade de improvisação dos alemães e/ou o apego cego às regras
Apesar de tudo, tem gente que não liga muito pras regras |
Esse vai ser o primeiro ponto em que vou criticar um estereótipo alemão: o clichê de que alemão só sabe seguir o que está nas regras é muito mais real do que se imagina.
Faça um teste com uma coisa bem trivial: Tente pedir uma pizza com dois sabores. Sim, diga que você quer metade mussarela e metade calabresa. O atendente vai ficar sem saber o que fazer. Vai dizer que não tem, que não dá e vai soltar a famosa frase que odeio "Tut mir Leid, aber wir können nichts für Sie tun". E não adianta discutir com um alemão (amigo seu) sobre isso. Ele é tão conformado com a impossibilidade de se fazer uma pizza com dois sabores que vai olhar pra você e dizer "Mas por que você não pode se decidir por um sabor apenas?". Ou seja, a culpa é SUA.
O pessoal aqui parece que foi educado para seguir regras. E isso é bom. O país é muito organizado. Costumo dizer que há regras para tudo e que se você não tem certeza se é algo é permitido, pode ter certeza de que é proibido.
Porém, parece que se esqueceram de ensiná-los a improvisar quando o manual de regras não previr todas as situações. É claro que já passei por situações onde alemães simpáticos deram um "jeitinho" proposto por eles mesmos. Mas ainda é a minoria. Os alemães são ótimos em seguir planos, organizar as coisas etc., mas é só o plano dar errado ou aparecer algo inesperado que eles ficam perdidos. Nós, brasileiros, parecemos ser o contrário: fazemos tudo na base do improviso, como pouco planejamento, esperando que no fim tudo dê certo.
É claro que estou exagerando um pouco... mas ao ver pedestres tarde da noite/madrugada esperando o sinal ficar verde pra atravessar a rua, mesmo sem nenhum carro na rua, me pergunto o que se passa na cabeça dessa pessoa a ponto de a pessoa continuar obedecendo aquela regra (feita para organizar o tráfego em horários onde carros e pedestres concorrem no mesmo espaço) mesmo contra todo o bom senso. Fico pensando que eles têm medo do caos total rsrsrs Acho que isso tem mudado lentamente, mas o medo do caos total ainda existe rsrsrs
Isso me lembra dessa foto aqui.
4) Odeio o fato de tudo ser dublado em alemão
Tem coisa mais chata do que você ir ao cinema e todos os filmes serem dublados (synchronisiert) em alemão??? Pô, eu sei que as dublagens são boas e não é pela dificuldade de assistir filmes em alemão, mas eu gosto de ouvir a voz original. Se for uma língua que eu não conheça, que ponham legendas (OmU - Originalton mit Untertiteln), ora bolas. A oferta de filmes em inglês (Originalton) tem aumentado nos últimos anos, mas ainda é bem escassa.
E pra piorar, todos os serviços de filmes online para assistir legalmente oferecem praticamente APENAS filmes dublados. Um saaaaaaaaaaaaaaacoooooooo! Qual é a graça de você pagar pra baixar e/ou assistir um filme legalmente na internet se ele só vai ser ofertado já dublado em alemão? Os filmes da lojinha da Android e da Apple também... tudo dublado. Tristeza total. (O que se salvam são algumas séries de TV).
Cinema do Brasil, saudades :-(
5) Odeio o atendimento ao consumidor
Hoje mesmo resolvi telefonar para uma loja na qual comprei um produto. Bem, a pessoa atendeu, disse o nome e falou "Guten Tag". Eu respondi "Guten Tag". Bem, eu esperava que ele dissesse algo como "Em que posso ajudá-lo?". Ele ficou mudo. Eu falei "Alô?!". Ele ficou mudo. Eu disse "Alôôô?!". Ele: "Sim, o Sr. tem que falar o que Sr. quer". Assim, de forma bem ríspida. Pois bem, esse atendimento superdelicado do telemarketing é quase regra por aqui. Parece que não há NENHUM treinamento de retenção de clientes em nenhum serviço de telemarketing em NENHUMA loja. Também ninguém se sente na obrigação de ser simpático (e olha que eu só tinha dito "Guten Tag e Hallo").
Uma vez tive problemas com meu celular. Depois de várias ligações sem sucesso, resolvi enviar um e-mail dizendo que esperava que solucionassem o meu problema, ou eu procuraria outra empresa de telefonia. Sim, eu ameacei um pouco, pois já tinha perdido a paciência. Sabe o que fizeram: "Prezado Sr., sentimos muito que o Sr. queira procurar outra empresa de telefonia. Assim, estamos cancelando o seu contrato a partir do dia X". Sim, isso mesmo, a própria empresa cancelou o meu contrato sem que eu pedisse. Fiquei tão chocado. No Brasil mesmo pedindo pra cancelar, as empresas vão te oferecer mil coisas pra você continuar com eles. Aqui bastou uma ameaça pra eles dizerem: "Sr. boa sorte com a concorrência. Adeus!".
(Dias antes do meu contrato vencer, eles me contactaram me perguntando o porquê de EU ter cancelado rsrsrs Tarde demais).
E mais uma vez a frase mágica: "Wir können nichts für Sie tun". E tchau!
Ah, eu teria mil histórias pra contar... E antes que falem "É pq você é estrangeiro"... É não, gente. É com todo mundo. Só que os alemães parecem não se incomodar muito. Como eu conheço um tratamento diferente do meu país, só consigo ficar de queixo caído. Claro que depois de muitos anos de Alemanha, eu acabo ficando feliz quando sou bem tratado em algum lugar. E, no fundo, sei que simpatia e antipatia é algo de personalidade e independe de nacionalidade. Mas como prestador de serviços, as pessoas têm que ser treinadas a tratar os clientes com um pouco mais de simpatia, né? Coisa que falta por aqui.
Tem outras coisas que me irritam? Tem outras coisas que adoro? Claro que tem. Mas isso eu vou deixar para vocês.
E o que mais odeio de tudo isso
Odeio quando brasileiros (meus conterrâneos) se dão ao trabalho de vir aqui falar em "complexo de vira-lata". Pra quem não sabe, o complexo de vira-lata é uma expressão criada por Nelson Rodrigues para falar sobre a incrível baixa autoestima dos brasileiros em relação ao próprio país. Sabe aquela mania que quase todo brasileiro tem de sempre achar que uma coisa dá errado é porque TINHA QUE SER NO BRASIL e que se fosse em qualquer outro país já teria dado certo?
Bem, algumas pessoas que leem meu blog ACHAM que sou baba-ovo dos alemães, que fico aqui sempre elogiando a Alemanha e falando mal do Brasil. E que "todo brasileiro que sai do Brasil" tem "complexo de vira-lata". Pô, elogiar o positivo num país não é necessariamente achar que tudo no Brasil não presta. Cada país tem seus pontos positivos e negativos. Minha profissão é divulgar o Brasil entre meus alunos. Garanto que 95% das coisas que mostro sobre o Brasil nas minhas aulas são positivas, pois quero manter o entusiasmo dos meus alunos pelo meus país e minha língua da qual eu me orgulho bastante. Mas não posso também tapar o sol com a peneira e dizer que no Brasil tudo é lindo e maravilhoso. Assim nas minhas aulas também debatemos sobre problemas também.
Entendo perfeitamente todos aqueles que vivem aqui e morrem de saudades do Brasil, como também entendo os que voltaram pro Brasil e morrem de saudades da Alemanha. Cada um é cada um. Longe de mim achar a Alemanha um paraíso, mas não nego que gosto de morar aqui. Eu sou um brasileiro que vive na Alemanha e hoje vivo a realidade daqui, mas jamais nego minhas origens como nordestino e brasileiro. Não endeuso lugar nenhum, mas atualmente vivo aqui, o que posso fazer? Voltar pro Brasil e parar de falar da Alemanha? Então se é aqui que vivo, é aqui o meu lugarzinho onde posso tentar absorver o melhor dos dois lugares: meu lugar de origem e meu lugar de moradia. Sou um brasuca que gosta de morar na Alemanha, fazer o quê?:-)
E como são as experiências de vocês na Alemanha?