27 de novembro de 2013

O que significa "Poltergeist"?

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Quando era criança assisti a esse filme, o que me fez ter pesadelos horríveis. Mas essa não é a questão.

Quando não sabia alemão, assisti a diversas reportagens sobre esses tais fenômenos e me lembro de que sempre diziam que "Poltergeist" queria dizer "fantasma brincalhão".

Bem, agora eu sei alemão. Será que esse é o real significado?

A palavra Poltergeist é composta de polter(n) + Geist.

O verbo poltern (pronunciado com Ó aberto... ou seja, não é pra dizer "pôu", como dizemos no Brasil, mas "pól") quer dizer "fazer barulho". Em alemão, quando alguém ou algo "poltert" isso significa "mehrmals hintereinander lauten, dumpfen Lärm bei einer Bewegung verursachen" (provocar com um movimento um barulho alto, abafado várias vezes consecutivas).

O dicionário também dá outros significados para poltern: 
Entre eles:
1) (coloq.) resmungar - "Er polterte ein wenig, weil wir zu spät kamen" - Ele resmungou um pouco porque nós tínhamos chegado atrasado.
2) "tradição de quebrar pratos, panelas etc. para desejar felicidade a um casal". A noite da quebra dos pratos é chamada de "Polterabend".

Aqui um vídeo:


A palavra Geist (der Geist, die Geister) pode significar "espírito" ou "fantasma" (lembra a palavra ghost do inglês).

Heiliger Geist - Espírito Santo

E quem não se lembra do Gasparzinho, o fantasminha camarada? Traduzido inicialmente como "Casimir", hoje eles deixam o nome em inglês "Casper, der freundliche Geist".
(Infelizmente, em português a tendência é essa também, pegar nomes de personagens de desenho animado com nomes em português e fazer novos desenhos com seus nomes em inglês. O ursinho Puff virou ursinho Pooh, já é possível ver o Frajola sendo chamado de Sylvester, produtos do Piu-Piu já são vendidos no Brasil como Tweety. Uó!)



Em alemão também existe outra palavra para fantasma: "das Gespenst, -er"

Quando se pergunta: Você tem medo de fantasma? em alemão se diz "Hast du Angst vor Gespenstern?"

Já o trem-fantasma é chamado de Geisterbahn. 

Um Poltergeist é um espírito barulhento, não brincalhão. Geralmente esses fenômenos estão associados a fenômenos paranormais nos quais objetos voam, portas batem etc. Por isso, a ideia é do barulho que eles provocam.

Para terminar, aqui vai o trailer em alemão deste filme de Spielberg:


Komm ins Licht, Carol Anne!

15 de novembro de 2013

É correto dizer "Das sind...?"

Ontem no Facebook pedi para que os leitores corrigissem a seguinte frase.

"Das sind meine letzten Tagen im Berlin".

Várias pessoas acertaram a correção. Vamos aos comentários:

1) "Das sind..."
Muitos tentaram corrigir o "Das sind...". Houve várias tentativas. Teve gente que disse "Die sind...", outros disseram "Diese sind...", e teve gente que colocou no singular "Das ist...".

Vou comentar cada um:
"Das ist..." - Pôr a frase no singular é um meio de corrigi-la, mas também é um meio de modificá-la. Mesmo sem uma tradução, fica claro em toda a frase que a pessoa queria dizer isso no plural. Caso contrário não teria usado o verbo no plural. Portanto, deixemos a frase no plural.

Antes de explicar as outras, gostaria de dizer que "Das sind..." e  "Es sind..." são formas corretas. Já escrevi sobre isso no blog antes. Clique aqui.

Ou seja, digamos que você queira apresentar sua família:
"Das ist mein Vater, das ist meine Mutter und das sind meine Großeltern".
(Este é o meu pai, esta é a minha mãe e estes são meus avós).

Uma coisa muito importante... "DAS" aqui não tem NADA A VER com o gênero neutro. Todo mundo sabe que "Vater" e "Mutter" são do gênero masculino e feminino, respectivamente. Ou seja, o "DAS" aqui é usado apenas como pronome geral.

Em alemão é possível usar pronomes específicos para os gêneros: no nominativo,  "der" (este), "die" (esta), "das" (este, esta - neutro), "die" (estes/estas). Atentem que estes são pronomes, não artigos, apesar de terem a mesma forma. Estes pronomes são mais usados como alternativa para os pronomes pessoais, mas também usados com "hier" e "da" para indicar "esse" e "aquele" respectivamente.

Por exemplo: Digamos que num churrasco com muitas pessoas, alguém pergunte, apontando para determinadas pessoas:
"Wer ist dein Vater? Der da?" (Quem é o seu pai? Aquele ali?)
"Nein, der (da) ist mein Vater. Und die mit blonden Haaren ist meine Mutter" - (Não, aquele lá é o meu pai. E a de cabelos loiros é minha mãe)

Nesse momento, os seus pais se aproximam e você quer apresentá-los. Nesse momento, não se diz mais "Der ist mein Vater". Agora você apresenta tal qual no primeiro diálogo:
"Das ist mein Vater und das ist meine Mutter".
"Das sind meine Eltern".

A frase original do exercício não era com pessoas, mas a ideia é a mesma.
"Estes são os meus últimos dias em Berlim"... a ideia por trás da frase com "das" é a seguinte:
"Isso (que você tá vendo) são os meus últimos dias em Berlim".

"Die sind..." (ou suas formas no singular) se usa com frequência com adjetivos e outros predicativos:
- Wie findest du deine neuen Mitbewohner? (Você tá gostando dos seus novos flatmates?)
- Die sind super nett. (Eles são muito simpáticos). - aqui "die" é usado no lugar de "sie". O sentido é o mesmo, mas é bem comum o uso dos demonstrativos no lugar dos pronomes pessoais na língua falada. Dá também uma certa ênfase ao sujeito.

"Diese sind...", apesar de não estar errado, o "dieser, diese, dieses" (e variantes) são usados com mais frequência quando acompanham substantivos. "dieser Mann", "diese Frau", "diese Menschen" etc. Como pronomes, eles são usados de forma semelhante ao "der, die, das" já explicados.

Apesar da estranheza inicial que o "Das sind..." causa, poderia ser a mesma que "Isso são..." deveria causar.
"Isso são outros 500". Apesar de "isso" ser singular, o verbo concorda com o elemento no plural. É a mesmíssima coisa que acontece com "Das sind...".

2) "meine letzten Tagen"

Muita gente tentou corrigir o "letztEN" para "letztE".

Eu sei que parece mais fácil acreditar que o correto seria "letztE", pois o pronome anterior termina em "-e". Mas uma olhadinha nas declinações de adjetivos mostra que no plural de todos os casos, a terminação dos adjetivos é sempre -EN, quando a palavra que o acompanha já tiver uma terminação de plural.

singular: die/eine/keine/meine großE Hand
plural: die/keine/meine großEN Hände (aqui a terminação do plural é -EN, pois as palavras que o acompanham terminam em -E, a marca do plural)
plural: zwei große Hände (aqui, a palavra que acompanha o adjetivo não termina em -E, por isso o próprio adjetivo ganha a letra -E, em vez de -EN).

Como está no plural, o correto é mesmo meinE letztEN. Para entender melhor, clique aqui.

O erro está em Tagen. O plural de "Tag" é "Tage", não "Tagen". O -N só aparece no dativo plural.

Sing. Plural
Nom der Tag die Tage
Akk den Tag die Tage
Dat dem Tag den Tagen
Gen des Tages der Tage

Esse erro aqui é de memorização mesmo... Tem que memorizar as formas corretas de plural. "Tag - Tage", "Freund - Freunde", "Kind - Kinder" etc. Muita gente sai dizendo: "Meine Freunden", "meine Kindern", ou seja, colocando um -N a mais sem necessidade. Lembrem-se de que esse -N aparece no dativo plural apenas.

"seit 2 Tagen", "mit meinen Kindern", "von deinen Freunden"

O correto então é: "meine letzten Tage" (Nominativo Plural).
Mais informações sobre o caso dativo aqui.

3) im Berlin

Essa foi muito fácil, muita gente conseguiu acertar.

IM = in + dem. Ou seja, só se usa IM se houver a contração da preposição com um artigo.

Exemplo: Er wohnt im Ausland - Ele mora NO exterior.

É "das Ausland", por isso, "in + dem Ausland".

Já cidades e a maioria dos países são usados sem artigo, por isso não há necessidade de escrever "im".

Er wohnt IN Berlin.

Há alguns países com artigo masculino (como "der Iran", "der Libanon", "der Irak"). O uso do artigo, nesse caso, é facultativo.

Er wohnt im Iran.
Er wohnt in Iran.

P.S. Países com artigo feminino (die Schweiz, die Türkei etc.) ou países no plural (die USA, die Niederlande etc.) têm o uso do artigo obrigatório.

Er wohnt in DER Schweiz, in DEN NiederlandeN.

Fiquem à vontade para comentar. E não se esqueçam de divulgar o nosso blog.



13 de novembro de 2013

♫ Dschinghis Khan ♫

Quando era criança, ouvi diversas vezes uma música com o seguinte refrão:
"Genghis, Genghis, Genghis Khan
Foi o maior lutador que existiu"

Era cantada pelos "The Fevers" hehehehe meodeos, voltei no tempo agora :-)

Pois é... quem imaginava que essa música é resultado de uma apresentação alemã para o Eurovision?!.
Com vocês a versão alemã original (o nome da banda é o mesmo nome da música)... o texto da tradução em português é muuuuuuito mais cheio de detalhes (violentos) hahahah

Só uma curiosidade... em alemão não existe uma maneira fácil de representar o som de "dj" como a pronúncia carioca ou paulista do "d" em "dia" ou "dinheiro". Por isso, há alguns alemães que representam esse som como "dsch".

A palavra inglesa "jungle" se escreve em alemão "Dschungel" (é assim mesmo... olhe no seu dicionário de alemão... a escrita é bizarra). Por essa razão, o que os ingleses escrevem "Genghis" os alemães escrevem "Dschinghis".. não estranhem!

Alguns outros exemplos:
Djibuti - Dschibuti
Jihad - Dschihad



Sie ritten um die Wette mit dem Steppenwind
tausend Mann
Und einer ritt voran, dem folgten alle blind:
Dschinghis Khan
Die Hufe ihrer Pferde, die peitschten den Sand
sie trugen Angst und Schrecken in jedes Land
und weder Blitz noch Donner hielt sie auf

Dsching, Dsching, Dschinghis Khan
hey Reiter - ho Leute - hey Reiter, immer weiter
Dsching, Dsching, Dschinghis Kahn
auf Brüder - sauft Brüder - rauft Brüder, immer wieder
lasst noch Wodka holen - ho, ho, ho
denn wir sind Mongolen - ha, ha, ha
und der Teufel kriegt uns früh genug

Dsching, Dsching, Dschinghis Khan
hey Reiter - ho Leute - hey Reiter, immer weiter
Dsching, Dsching, Dschinghis Khan
he Männer - ho Männer - tanzt Männer, so wie immer
und man hört ihn lachen - ho, ho, ho
immer lauter lachen - ha, ha, ha
und er leert den Krug in einem Zug

Und jedes Weib, das ihm gefiel,
das nahm er sich in sein Zelt
Es hieß, die Frau, die ihn nicht liebte
gab es nicht auf der Welt
Er zeugte sieben Kinder in einer Nacht
und über seine Feinde hat er nur gelacht
denn seiner Kraft konnt' keiner widerstehen

Dsching, Dsching, Dschinghis Khan
hey Reiter - ho Leute - hey Reiter, immer weiter
Dsching, Dsching, Dschinghis Kahn
auf Brüder - sauft Brüder - rauft Brüder, immer wieder
lasst noch Wodka holen - ho, ho, ho
denn wir sind Mongolen - ha, ha, ha
und der Teufel kriegt uns früh genug

Dsching, Dsching, Dschinghis Khan
hey Reiter - ho Leute - hey Reiter, immer weiter
Dsching, Dsching, Dschinghis Khan
he Männer - ho Männer - tanzt Männer, so wie immer
und man hört ihn lachen - ho, ho, ho
immer lauter lachen - ha, ha, ha
und er leert den Krug in einem Zug!

Pra quem nunca ouviu a música em português, aqui vai:

11 de novembro de 2013

Alemão da Depressão: GIFS

Aprender alemão te traz muitos momentos memoráveis, oder? :-)

1) Quando tento pular um nível de alemão sem ter o nível. (Aquele momento: "O nível A1 é muito fácil. Deixa eu ir direto pro B1"). 



2)  Meus professores dizem pra eu ter calma, que não se aprende uma língua da noite pro dia, que devo seguir passo a passo:








3) Bem que eu tento falar alguma coisa...





4) Então começo a praticar. Começo pela pronúncia. Clique aqui



5) E fico tentando pronunciar esse tal R na garganta.. OI? (clique aqui ou aqui).

Então aprendo algumas palavras.
6 ) Minha reação ao saber que "vaca" em alemão é "Kuh"
7) Mas nunca conseguir pronunciar ESQUILO: EICHHÖRNCHEN

Depois aprendo os números. 
8) Quando as pessoas perguntam: você sabe contar até quanto em alemão?
Expectativa:
Números grandes em alemão? Clique aqui.

Realidade:
 Números pequenos em alemão, clique aqui.

9) Minha primeira reação ao ver que existem palavras do tipo "siebenhundertachtundzwanzigtausendfünfhundertsechsundachtzig" ou "Rindfleischetikettierungsüberwachungsaufgabenübertragungsgesetz". Clique aqui

Tá bom, tá bom... eu vou tentar falar alemão.

10) Quando tento dizer aquilo que treinei durante horas:



11) A cara da minha professora quando me ouve falando alemão:

12)Como eu reajo quando alguém fala alemão comigo:


13) Ou quando eles falam rápido demais:


14) Sempre dou uma risadinha pra fingir que entendi: 





15) Por fim, pergunto à minha professora (ou ao autor do blog Quero Aprender Alemão) se dá pra aprender alemão de forma fácil, rápida, sem esforço... tipo, ir do nível zero ao nível C2 em 6 meses. Clique aqui. 



16) Mas não me preocupo, pois já consigo imaginar o dia em que vou falar alemão fluentemente. Clique aqui




18) Mesmo assim fico P... da vida quando vejo meus amigos desistindo do alemão e indo estudar outros idiomas. 



19) Pois, por mais que não seja fácil: 

20) NAO DESISTA de aprender alemão. Parece que não vai dar, mas acredite... dá pra aprender, sim. Clique aqui


5 de novembro de 2013

Numerais grandes


Atenção aos numerais grandes:
Os números grandes não são  lidos da mesma forma por todos os países. Existe uma escala curta e uma escala longa. Na escala curta, a nomenclatura muda a cada três dígitos. Na escala longa, a nomenclatura muda a cada 6 dígitos.

A língua alemã usa a escala longa, variando a cada três digitos entre duas terminações: -lion e –liarde. Million, Milliarde, Billion, Billiarde, Trillion, Trilliarde etc. Estas palavras são sempre escritas como substantivos independentes (do gênero feminino) separadas dos outros algarismos. Por isso, não há como escrever numerais numa palavra só até o infinito. Só até 999.999. 

990.000 - neunhundertneunzigtausend
1.990.000 - einmillionneunhundertneuzigtausend (ERRADO - a palavra Million se escreve separado)
1.990.000 - eine Million neunhundertneunzigtausend (CORRETO!)


O plural de Million é Millionen e de Milliarde é Millarden.

eine Million, zwei Millionen, eine Milliarde, zwei Milliarden

 O Brasil é o único país de língua portuguesa que usa a escala curta. Mas em português existe o adjetivo “miliardário” que, segundo o Hoauiss, quer dizer "que ou aquele que possui bilhões, que é riquíssimo".

Aqui há um mapa dos países de acordo com as escalas numéricas:
azul - escala longa
roxo - ambas
lilás - escala curta
amarelo - nenhuma das duas
E pra terminar o tópico, quer ver alguém lendo números grandes em alemão e fazendo as contas de cabeça? Então divirta-se!


4 de novembro de 2013

O que é falar alemão fluente?

O que é fluência numa língua estrangeira? 
Essa pergunta todo mundo se faz mais cedo ou mais tarde, pois todo mundo conhece alguém que diz falar uma língua fluentemente. Depois de estudar vários idiomas e de ler várias opiniões sobre o assunto, decidi escrever a minha opinião sobre o que é fluência. 

Antes de dar a minha opinião, prefiro trabalhar com os conceitos mais difundidos entre as pessoas. 

Conceito utópico: "Uma pessoa é fluente numa língua quando ela sabe TUDO sobre aquele idioma. Ela domina TODAS as regras de gramática e se você lhe perguntar o que significa uma palavra, ela raramente buscará no dicionário, pois ela tem um vocabulário extremamente abrangente. Ela raramente comete erros, pois ela conhece todas as regras da língua. Ela fala sem dificuldade sobre qualquer assunto."

Infelizmente esse é o conceito mais difundido por aí. Existe (especialmente no Brasil) uma ideia de que para aprender uma língua é necessário aprender tudo PERFEITO. Pessoalmente atribuo esse problema ao ensino de língua portuguesa no Brasil. 

Explico melhor: No Brasil, as aulas de português servem quase sempre apenas para diminuir a autoestima linguística (quase inexistente) do brasileiro. Professores servem apenas para apontar erros de gramática, ensinar regras antiquadas (que todos devem seguir, mesmo que ninguém as use em lugar nenhum) e apontar o dedo na cara de todos os alunos para dizer "Meu filho, você não sabe português... isso que você fala é qualquer coisa, menos português". Bem, se você passa a vida toda (e são mais de 10 anos na escola) ouvindo da própria instituição educacional que você não domina nem mesmo sua própria língua (o que é mentira... brasileiros dominam seu próprio idioma, só que é um idioma diferente do ensinado na escola. A norma escrita, no entanto, exige treino - oferecido pela escola. Só que a língua não é só a norma culta escrita.), mas aceitando calado que existe uma "forma perfeita" de se falar um idioma, é óbvio que os brasileiros sempre se tornam inseguros em qualquer língua que tenham que aprender, sempre buscando uma perfeição inalcançável.

Ou seja: se não for de forma PERFEITA, então você, na verdade, não fala o tal idioma. 
E a mesma cena da sala de aula é repetida no dia-a-dia... Uma pessoa pode estudar na Alemanha, escrever toda uma tese de doutorado em alemão, dar palestras em alemão impecável, mas AAAAAAAAAI dele se não tiver também um sotaque impecável... e ai dele se trocar um "die" por um "das"... logo, logo aparecerão os juízes para dizerem "Vejam... mas ele não é fluente, pois se fosse fluente mesmo não teria esse sotaque forte.. não teria trocado o gênero da palavra". Ai do professor de alemão que não entender TUDO daquela música ou daquele texto. Se ele deixar de entender uma única palavra: PRONTO! Mau professor. Se não souber tudo, então não é fluente. 

Em outras palavras: as pessoas acreditam numa forma da língua que seja PERFEITA. Eles mesmos não a dominam, não conhecem ninguém que a domine (pois até os alemães nativos cometem erros), mesmo assim um falante fluente é aquele que não comete nenhum erro. Pergunto: alguém acredita mesmo que haja pessoas que saibam realmente TUDO sobre um idioma? Que conheçam TODAS as palavras de um dicionário? Que já tenham lido TODAS as regras descritas em TODAS as gramáticas? 

Por esse mesmo motivo, muitos brasileiros desistem de aprender idiomas, pois só abrem a boca depois que têm a certeza de que não estão cometendo nenhum erro, se frustram mais do que o normal a cada erro cometido e exigem uma perfeição inatingível. A meu ver, esse conceito é o mais desestimulante, apesar de comum.

Conceito simplório: "Uma pessoa é fluente quando ela consegue usar a língua (sem dificuldades) em todas as situações nas quais ela precisa usar aquele idioma". 

De cara, esse parece ser um conceito melhor do que o primeiro. De fato, aqui não se fala sobre perfeição linguística, mas a capacidade de a pessoa usar a língua de acordo com as suas necessidades e sem maiores dificuldades. Apesar de este conceito parecer ideal, ele não é muito exato. 
Tomemos o exemplo fictício de uma cidade turística como o Rio de Janeiro. Digamos que um vendedor de praia aprenda a oferecer seus produtos em alguns idiomas: inglês, espanhol, italiano... de acordo com os turistas que costumam estar nas praias. Com o tempo, digamos que ele consiga realmente aprender tão bem seus diálogos com os clientes que ele aprenda a oferecer o produto, dizer os preços, fazer ofertas especiais e ainda convencer (através de boa lábia) o cliente a comprar... Será que este vendendor é FLUENTE em vários idiomas? :-)

(Deem uma olhadinha no vídeo abaixo, por sinal)

(Baseado no conceito utópico de fluência, tem gente que afirma por aí que que se você não souber todos os sotaques, dialetos, linguagens regionais, gírias etc. você não é fluente naquela língua... ou seja, a pessoa só será fluente em alemão, quando aprender todos os dialetos, expressões, gírias de todos os países que falam alemão etc. Não caiam nessa, gente!)

Assim como o vendedor fictício do qual falei antes, há milhares de pessoas no mundo capazes de usar diversas línguas no dia-a-dia, mas apenas em contextos muito específicos. O chinesinho que vende pastel no Brasil ou o mesmo que trabalha num restaurante chinês aqui, eles provavelmente não saberão discutir sobre política externa, nem saberão escrever um artigo de opinião para um jornal em português/alemão, mas seu conhecimento será suficiente para fazerem aquilo que necessitam fazer. Ou seja, elas ainda sabem bem menos do que uma pessoa dita "fluente". Seria injusto considerar que o inglês (ou espanhol, ou alemão...) do vendedor da praia seja tão fluente quanto o de pessoas que dominam a língua nas suas mais diversas formas, até a linguagem culta. Se todo mundo que soubesse usar alemão apenas nas situações nas quais precisam da língua fosse considerado fluente, haveria milhões de turistas fluentes em alemão, pois estes sabem muito bem pedir a sua cerveja e pagar as contas. Fluência tem que ser mais do que isso. 

O lado bom desse segundo conceito é que ele é mais voltado para a prática. Se o brasileiro soubesse o porquê de ele estar aprendendo um idioma, poderia então se concentrar em alcançar esse objetivo prático, em vez de se preocupar demasiadamente em falar perfeito. Traçar objetivos comunicativos pequenos ao longo do aprendizado pode levar ao domínio maior da língua. Em vez de planejar "tenho que aprender alemão perfeito, sem cometer erros", melhor colocar como meta "Esse mês quero aprender como ir ao médico e explicar o que estou sentindo, bem como o nome de sintomas e doenças que eu tenho". No momento em que você conseguir usar o seu alemão para ir ao médico e conversar com ele, terá alcançado um objetivo prático e comunicativo, em vez de se concentrar exclusivamente com regras de gramática.

Conceito objetivo: "Quando uma pessoa atinge o nível C1-C2 do idioma, pode-se considerar fluente". 

Eu gosto deste conceito, pois ele é bem objetivo. Ou seja, podemos saber o que é uma pessoa de nível C1-C2 ao lermos o Quadro Comum Europeu de Referência para línguas. Apesar de ser um quadro europeu, ele também pode ser usado em qualquer parte do mundo como "referência". Outros países podem desenvolver outros quadros e outros níveis, mas o que importa é ter níveis altos a serem atingidos.

Outra coisa boa desses níveis é que os objetivos são REAIS. Nele não há coisas do tipo: "Um falante do nível C2 fala perfeito sem cometer nenhum erro".. .a partir do C1 os erros vão ficando mais raros.. como nessa passagem:

"Nível C1: Mantém um nível elevado de correção gramatical de forma constante; os erros são
raros e difíceis de identificar"

Mesmo assim, é possível cometer erros em níveis altos de competência linguística. O mais alto nível do QCER requer que a pessoa domine a língua tão bem que eles usam o termo "muttersprachähnlich" (ou seja, parecido com as competências de um falante nativo). Mas parecido não é idêntico. Ou seja, é possível alcançar um nível altíssimo na língua e ainda assim você não a falará como um nativo. Isso é muito importante de se dizer, pois muita gente acha que alcançar um C2 quer dizer "falar perfeito".

Há de se lembrar também de que o QCER classifica cada habilidade linguística de forma separada. Ou seja, uma pessoa só pode ser C2 na compreensão de leitura, mas ser um B2 na habilidade oral interativa e ser um C1 em monólogos (ao dar uma palestra, por exemplo), bem com ser B1-B2 na pronúncia fortemente marcada pelo sotaque estrangeiro. O QCER tem várias e várias tabelas com escalas para definir o nível de cada coisa. Se você ler o que cada nível significa e uma pessoa realmente chegar ao nível C1 e C2, pode-se ter certeza de que ela domina aquela língua muito bem, não só pra vender o seu peixe na praia, mas também na escrita, no ambiente profissional, acadêmico etc.

Quer saber se você tem o nível C2? Então faça o teste do nível C2 do Instituto Goethe. Mais informações aqui. Quer se preparar para a prova do nível C2? Dá pra comprar materiais preparatórios aqui e aqui.

Eu gosto desse conceito por ele ser alcançável e baseado em situações e pessoas reais. Além disso, os níveis C1 e C2 contemplam também o uso formal da língua em todas as suas formas: literário, científico etc. Ou seja, a pessoa que chega a este nível é exposta a vários usos da língua, desde os mais simples até os mais formais.

P.S. Fazer um curso B2 não quer dizer que você tenha o nível B2. Para saber se você tem um determinado nível o que conta é a sua autoavaliação. Leia os descritores de cada nível e pergunte para si mesmo se seu nível é igual ao que está descrito no QCER. Não adianta fazer um curso B2 de alemão e não conseguir manter uma conversa em alemão. O que importa é o que você é CAPAZ de fazer, não o nível que consta na capa do livro ou no seu curso. Na dúvida faça os testes de proficiência que comprovem o seu nível.

Leia mais sobre os níveis europeus aqui.
Leia mais sobre testes de alemão aqui.

Mas eu ainda tenho um conceito pessoal.

Conceito do Fábio. "Uma pessoa pode dizer que é fluente num idioma quando realizar atividades naquele idioma não são mais um peso difícil de carregar, quando você se sente profundamente à vontade ao usar o idioma nas mais diversas situações, mesmo em situações formais"

Faça os seguintes testes:
1) Um grupo de amigos de várias nacionalidades decide se encontrar. Todos conversam em alemão alegremente sobre diversos assuntos: política, clichês, as melhores cervejas, algum filme que viram recentemente, viagens, contam piadas etc. Você não fica só OUVINDO as conversas.. você participa também. Ao terminar a noite você pensa que a conversa teria sido melhor se tivesse sido em inglês? Ou você volta pra casa satisfeito com suas conversas da noite, sem ter aquela sensação de ter falado menos por não saber alemão suficiente? Se falar alemão não é mais um peso pra você, se você não sente mais a necessidade de trocar para uma outra língua que você ache mais fácil, então você é FLUENTE em alemão.

2) Você tem que escrever uma carta em alemão para se candidatar a um emprego. Você vai participar de uma entrevista de emprego em alemão. Você mesmo(a) redige a carta tendo a certeza de que ela não contém grandes erros. Talvez peça a algum nativo para que a leia, apenas para garantir (afinal é um emprego que está em jogo). O nativo não encontra quase nenhum erro em sua carta e te dá uma ou outra sugestão. A entrevista não te aterroriza por ser em alemão. O seu nervosismo não está na língua, mas apenas na forma como a entrevista será conduzida e se causará uma boa impressão. Você se sente tão à vontade com a língua que durante a entrevista não estará mais preocupado com o acusativo ou dativo, mas apenas com o conteúdo do que diz e ouve, então você é FLUENTE em alemão.

Há coisas que serão difíceis de fazer em uma língua estrangeira, seja ela qual for. Escrever uma tese ou dissertação numa língua estrangeira, mesmo que este seja espanhol, inglês, é e será sempre difícil. Eu JAMAIS entregaria um artigo científico para publicação ou uma TESE sem a leitura de revisores em língua materna. Erros SEMPRE existem, mesmo na língua materna. O ideal é que haja poucos erros de gramática. Eu consigo me conformar com erros de estilo, pois aprender a escrever trabalhos acadêmicos é uma tarefa árdua, até no próprio idioma. Encontrar a palavra certa, o termo certo etc. nem sempre é fácil. Mas quantas pessoas nunca PRECISARAM escrever um trabalho acadêmico, nunca fizeram uma faculdade? Será que é justo dizer que uma pessoa não é fluente, apenas por ela nunca ter escrito um trabalho acadêmico?

É muito difícil comparar "fluências". A meu ver, uma pessoa pode ser chamada de fluente numa língua estrangeira quando ela é exposta às mais diversas situações de uso da língua e se sente à vontade para usá-la. A pessoa pode ser fluente na fala, mas não na escrita (ou vice-versa). Por isso acredito que pessoas que não escrevam muitos textos (por não terem necessidade de escrever), também consigam falar uma língua fluentemente.

Sei que meu conceito não é exato, mas ele serve pra mim e também prevê coisas que para mim sempre serão difíceis (como escrever trabalhos acadêmicos). Isso não me frustra, pois conheço também linguistas alemães que falam um português excelente que pedem para que alguém corrija seus textos. Prefiro trabalhar com conceitos reais aplicáveis a pessoa reais, não a deuses.

Pra terminar: quando você vai responder à pergunta "Sprichst du Deutsch?" com um sonoro "Jaaaaa" em vez do "Mais ou menos.. ein bisschen... ich versuche es"? Ainda baseado no conceito utópico de perfeição, há muitos brasileiros que passam a vida toda dizendo que não sabem alemão, esperando essa perfeição chegar. Eu sempre digo que falo alemão (e muito bem, obrigado!), justamente por eu morar na Alemanha e não ter mais nenhuma sensação de que a língua esteja me impedindo de realizar alguma coisa. Sinto-me à vontade para fazer cursos em alemão, participar das discussões em alemão no meu trabalho ou até mesmo falar em público em alemão. Já fui exposto a diversas situações de uso da língua, até mesmo aos seus usos mais formais (na faculdade) e minha dissertação de mestrado também foi escrita em alemão. Se tudo isso não for suficiente pra que eu diga que falo alemão, o que será então?
É claro que  tem dias em que penso "Chega de alemão! Quero falar português hoje." Isso acontece, pois alemão não é minha língua materna, nem nunca será. Eu não tenho problema com isso. É óbvio também que vai ter sempre aquele pessoal chatinho pronto pra apontar o dedo e dizer "Mas olha, ele errou". Eu não ligo. Isso não me faz menos fluente. E não deveria fazer ninguém menos fluente. Também não me sinto menos fluente por não saber dizer algo em alemão. (Sou um ser humano, não um dicionário ambulante).
Quando você vai dizer "Ja, ich spreche Deutsch" e sair do "Mais ou menos"?
A todos aqueles que leem o blog desejo que consigam alcançar seus objetivos no aprendizado do alemão. Sei que entre os leitores, há muitos falantes FLUENTES de alemão. Espero que possamos todos nos encontrar um dia e conversar em alemão, descontraídos sem nos preocuparmos tanto com dativos, acusativos e nominativos :-)

Como aprendi alemão
Aprender alemão rápido




1 de novembro de 2013

Como se diz "caneta" em alemão?

Tudo começou com fotos mostrando a leveza da língua alemã, como essa:
Fizeram tantas fotos que chegaram a fazer vídeos. Os vídeos (que continuo toda semana recebendo por e-mail) já postei todos aqui.

Mas a pergunta que fica é como se diz "caneta"? É isso mesmo "Kugelschreiber"? :-)

Como resposta inicial eu fiz a seguinte imagem provocativa para o nosso blog:


Sim, amiguinhos, a palavra gigantesca "Kugelschreiber" também é abreviada no dia-a-dia como "Kuli".

Mas a maioria aqui já sabe: alemão é uma língua muito específica.
http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Different_types_of_pens.jpg
Fonte: http://commons.wikimedia.org
Uma Kugelschreiber é a junção de Kugel + Schreiber. Kugel quer dizer esfera. Schreiber quer dizer (ao pé da letra) "escrevente". Ou seja, é uma caneta esferográfica. A Kuli é a caneta tipo BIC, aquela com uma esfera na ponta.

Como nem toda caneta é esferográfica, cada caneta tem um nome diferente, mas para todas elas existe a palavra (der) STIFT, -e. Sim, só isso... não é nenhuma palavra gigante.. é quase o mesmo nome da tecla "SHIFT" do seu teclado.. é só botar um T a mais na pronúncia. Em vez de dizer "shift" diga "shTift".

Na foto ao lado vemos vários tipos de "Stift".. vai de lápis até vários tipos de caneta.
Um lápis é um BLEISTIFT, um lápis de cor é um BUNTSTIFT ou um FARBSTIFT, um giz de cera pode ser chamado de WACHS(MAL)STIFT - bem como de WACHSKREIDE, ao pé da letra, giz de cera - as canetinhas coloridas podem ser chamadas de FILZSTIFT ou FASERSTIFT (ou de Filzer) e esses pincéis para lousas brancas também são chamados de Stift (no meu trabalho a gente apenas diz que é um "Stift für Whiteboard", mas também pode-se dizer "Whiteboardmarker" - pronúncia inglesa). Em outras palavras... na hora de perguntar "Você tem uma caneta?", pergunte "Hast du einen Stift?", porque esta é a palavra mais geral de todas e a pessoa poderá oferecer qualquer tipo de caneta.

E pra falar bem a verdade, mesmo que só existisse a palavra "Kugelschreiber", qual é o problema? Se escrevêssemos também "canetaesferográfica" tudo junto, também não seria nada pequena a palavra, não é?

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P.S. A palavra "Stift" também é traduzida em português por "bastão. Um "batom" (que nada mais é do que a palavra "bastão" afrancesada) se diz "Lippenstift" e aquela cola em bastão também se diz "Klebestift".

Existem dois gêneros para a palavra "Stift". A Stift da qual falamos é do gênero masculino. DER STIFT. Existe a palavra Stift também do gênero neutro (das) Stift, mas não quer dizer caneta... quer descobrir o que é? :-) Dá uma olhadinha no dicionário. Quer dicas de dicionário? :-) Clique aqui.