26 de fevereiro de 2014

Quiz Facebook: 25/02/2014

Quiz 1:



Resposta: MEINEM

Por quê?
"vertrauen" dá pra ser usado com um complemento no dativo ou com a preposição AUF + acusativo.

Er vertraut mir.
Ich vertraue meinem Vater.
Sie vertraut auf seine Ehrlichkeit.

Vater - substantivo masculino.
No dativo, "meinem Vater", no acusativo seria "meinen Vater". Como não há a preposição "auf" no enunciado, o correto é "meinem".

Uns vão se perguntar: mas como eu poderia saber que "vertrauen" se usa com o dativo? Clique aqui ou aqui.

Por que as outras respostas estão erradas?
Porque "mein", quando for para um substantivo masculino, só se usa no nominativo.
Ex.: Mein Vater vertraut mir. 

"Meiner" como possessivo é do gênero feminino dativo, ou do genitivo feminino e plural. 
Ich vertraue meinER Mutter. (Dativo feminino)

"Meiner" só é usado como possessivo masculino quando não acompanhar um substantivo e estiver no nominativo. Repetindo: somente quando o substantivo for omitido.

Masculino Nominativo: 
Dieser Tisch ist meiner. (aqui o possessivo aparece sozinho, sem acompanhar o substantivo "Tisch")
Das ist mein Tisch. (quando o possessivo acompanhar o substantivo, o masculino nominativo é "mein")

Quiz 2:




Aqui entra em jogo o Konjunktiv II no passado (chamado às vezes de "Plusquamperfekt Konjunktiv II") e os verbos modais. A primeira pergunta que se deve fazer é: como se faz o Perfekt dos verbos modais? Quem sabe fazer o Perfekt saberá fazer o Konjunktiv II no passado (cuja diferença é apenas no verbo auxiliar "haben", que fica no Konjunktiv II "hätte")

Os verbos können, dürfen, mögen, wollen, sollen, müssen podem ser usados como verbos principais (como único verbo na oração) ou como modais propriamente ditos (acompanhando outros verbos). 

Quando estiverem sozinhos, eles fazem o Perfekt da maneira mais conhecida: verbo auxiliar haben + Partizip II (gekonnt, gedurft, gemocht, gewollt, gesollt, gemusst), sempre sem Umlaut

Ex.: 
Das durfte ich nicht. (Präteritum)
Das habe ich nicht gedurft. (Perfekt)

Se quiser colocar no Konjunktiv II no passado (Plusquamperfekt) é só trocar "habe" por "hätte"
Das hätte ich nicht gedurft. (Konjunktiv II - Plusquamperfekt)

Mas quando os verbos modais acompanharem outro verbo, usa-se o infinitivo no lugar do Partizip II. Ou seja, no final da oração ficam dois infinitivos. 

Das konnten wir machen. (Präteritum).
Das haben wir machen können. (Perfekt)
Das hätten wir machen können. (Konjunktiv II - Plusquamperfekt)

O importante aqui não é aprender os nomes dos tempos verbais. O que importa é saber que nos tempos compostos (qualquer que seja) com verbos modais, usa-se o "duplo infinitivo" em tempos no passado em vez do "Partizip II". Sabendo disso, as únicas respostas possíveis seriam a B ou a E, pois as outras contêm particípios (inclusive particípios errados com Umlaut).

Para saber a resposta correta agora, é importante saber se o correto é "antworten" ou "beantworten". Essa pergunta já foi respondida aqui no blog alguma vezes. Clique aqui. Quem está ligado nas postagens do blog sabe que nesse caso o verbo a ser usado é "antworten". Portanto, resposta "B"

Du hättest auf die Frage antworten können
Você poderia ter respondido à pergunta. 

Parabéns a todos que acertaram!



19 de fevereiro de 2014

Quiz do Facebook: 03/02/2014 e 19/02/2014

Olá, queridos leitores, vamos às respostas:

No dia 03/02/2014 fiz a seguinte pergunta no Facebook:




Eu gosto de chocolate suíço.
a) Ich mag schweize Schokolade.
b) Ich mag Schweizer Schokolade.
c) Ich mag schwedische Schokolade.

A resposta correta era a letra B. Sei que muita gente respondeu a letra A. Vou explicar o porquê.

Existem alguns adjetivos pátrios (gentílicos) invariáveis. Apesar de serem adjetivos, são escritos com inicial maiúscula por se tratarem de gentílicos. Esses adjetivos invariáveis são, geralmente, apenas relacionados a cidades e terminam sempre em -ER. Como são invariáveis, tanto faz em que caso ou gênero estejam.

Exemplos:

Quem nasce em Berlim é berlinense. Quem nasce em Hamburgo é hamburguês. Quem nasce em Munique é muniquense (esse nome "muniquense" soa horrível, né? rsrsrs)

Pois é.. em alemão é sempre com -ER e é invariável.

berlinense - Berliner
hamburguês - Hamburger
muniquense - Münch(e)ner

Assim como em português, nem sempre há regras claras para formação desses gentílicos das cidades. Às vezes há formações irregulares.

Quem nasce em Bremen, é Bremer. (Perceba que se perdeu o "en" do nome da cidade)
Quem nasce em Hannover é Hannoveraner.
Quem nasce em Halle é Hallenser.

Resumindo:

a) Quando esses gentílicos se referirem a alguém nascido naquele lugar, são considerados substantivos, por isso existirá sempre uma forma para o masculino terminada em -ER e uma forma feminina terminada em -ERIN. Neste caso, o substantivo será declinado normalmente em todos os casos.

Exemplos (como substantivos):
Tennisstar Sabine Lisicki ist die Berlinerin des Jahres 2013.
A estrela do tênis Sabine Lisicki é a berlinense do ano 2013

Gladbach verliert bei starken Hannoveranern mit 3:1.
O Gladbach perde para os fortes hanoverianos de 3 a 1.

b) Quando os gentílicos forem usados como adjetivos, eles permanecem invariáveis. Ou seja, não variam nem em gênero (masculino, feminino, neutro) nem em caso (nominativo, acusativo, dativo, genitivo). A forma sempre terminará em -ER.

Wir haben ein Foto vom Kölner Dom gemacht. (apesar de estar no dativo, o -ER se mantém invariável)
Tiramos uma foto da Catedral de Colônia (ao pé da letra: coloniana).

Das ist die Dresdner Bank. (apesar de "Bank" ser do gênero feminino, a terminação -ER se mantém invariável)
Este é o banco de Dresden (ao pé da letra: dresdense)

A Suíça não é uma cidade, mas o gentílico de "Suíça" é construído da mesma forma.

a) Quem nasce na Suíça é "Schweizer" (se for do sexo masculino) ou "Schweizerin" (se for do sexo feminino).

b) O adjetivo "suíço" fica sempre invariável "Schweizer". Por isso a resposta é B. "Schweizer Schokolade".

P.S. "schwedische Schokolade" é "chocolate sueco", não "suíço".

Dúvidas ainda? Clique aqui para ler mais sobre adjetivos pátrios.

Quanto ao quiz de hoje (19/02/2014)




Nem vou comentar muito, aqui está a resposta correta:

Vi que vários cometeram erros principalmente na letra "b", colocando -EN.

"der Film" (Singular)
"die Filme" (Plural)

Vamos então falar sobre adjetivos no plural:

Atentem para as regrinhas que já ensinei... o adjetivo ganha a mesma terminação que o artigo definido tem (marcadas de azul) caso a palavra que acompanhe o adjetivo não tenha essa terminação. Ou seja, no plural, a terminação é quase sempre -EN, mas só nos casos em que a palavra que vem antes do adjetivo terminar em -E, tal como o artigo definido.

die brasilianischEN Filme
diese brasilianischEN Filme
deine brasilianischEN Filme
keine brasilianischEN Filme

Caso a palavra que acompanhe o adjetivo não termine em -E, o adjetivo é que ganha o -E.

ein paar brasilianischE Filme
zwei brasilianischE Filme

Dúvidas ainda? Clique aqui para ler mais.

15 de fevereiro de 2014

Como saber se um verbo é reflexivo

Primeiro: Não tem nada de terror... Você tá fazendo terror por causa de UM verbo rsrsrs.

A grande maioria dos verbos são reflexivos em português e alemão.  (sich fühlen - sentir-se; sich hinlegen - deitar-se, sich beeilen - apressar-se etc.). Daria pra dar inúmeros exemplos de verbos assim em ambas as línguas, mas não tenho números estatísticos para confirmar o que acabei de dizer. Esta é apenas a minha sensação.

Outra coisa que se tem que fazer às vezes é procurar uma tradução reflexiva em português.

Pense no verbo "sich beschweren". Podemos traduzi-lo como "reclamar". Nesse caso, ficamos sem entender o porquê de ele ser reflexivo em alemão. Mas se traduzirmos como "queixar-se", talvez fique mais fácil de memorizar. Dá pra fazer isso com vários outros verbos.

Há também que se diferenciar os verbos reflexivos "puros" (são chamados na gramática de "verbos pronominais essenciais", pois sempre são reflexivos) e os verbos reflexivos "acidentais", ou seja, aqueles que podem ser usados (sem mudança de significado) tanto de forma reflexiva quanto não-reflexiva.

Um exemplo: em português

sich beschweren - queixar-se

Não se usa "queixar-se" de forma não-reflexiva (pelo menos não no sentido de "reclamar").

Outro exemplo clássico de verbo que é sempre reflexivo em português é "suicidar-se" (sich umbringen). O interessante é que a palavra "suicídio", em si, já indica que é um ato aplicado a si mesmo. Mesmo assim, o verbo é sempre reflexivo.

Já verbos como "apresentar" ou "cortar" podem ser usados de ambas as formas, sendo que o seu uso reflexivo é também com sentido recíproco, ou seja, o complemento verbal e o sujeito da oração se referem à mesma pessoa/coisa.

Vou apresentar a minha namorada, ou melhor, ela pode se apresentar.
Ontem me cortei com uma faca, mas queria mesmo era cortar a cebola.

O mesmo acontece também em alemão:

O verbo "vorstellen", no sentido de "apresentar" pode ser usado também de ambas as formas:

Ich stelle dir meine Freundin vor. (não-reflexivo)
Darf ich mich vorstellen? (reflexivo)

Então não existe motivos pra se fazer terror. Há quase sempre a possibilidade de se traçar paralelos com a língua portuguesa. Existem, claro, casos em que isso não coincide, mas isso é normal com qualquer idioma. Nesse caso um "decoreba" pode ajudar.

Vou dar aqui alguns exemplos, mas não vou separar os verbos reflexivos nas categorias que apresentei acima.

a) Português reflexivo vs. alemão não-reflexivo

chamar-se: heißen
casar-se: heiraten
levantar-se: aufstehen
mudar-se: umziehen

(Mas se considerarmos bem, alguns desses verbos reflexivos poderiam se tornar reflexivos em alemão caso traduzíssemos ao pé da letra: "chamar-se" por "sich nennen" ou "levantar-se" por "sich erheben", mas claro que essas traduções seriam meio forçadas).

b) Português não-reflexivo vs. alemão reflexivo

sich ändern - mudar ("mudar" aqui no sentido intransitivo de "ficar diferente, sofrer mudança ou transformação)... (Talvez ajude um pouco pensar em "modificar-se")

Er hat sich geändert - Ele mudou.

sich bedanken - agradecer (também existe o verbo "danken" que não é reflexivo)

sich unterhalten - conversar (um dos sentidos desse verbo é "conversar", sinônimo de "reden". Mas a sua origem é em "distrair-se", "divertir-se", "entreter-se", por isso, tem essa forma reflexiva).

Er hat sich mit mir unterhalten. (Ele conversou comigo)

Bem, com exceção de alguns verbos que precisei memorizar mesmo, na maioria dos casos uma análise no significado e na estrutura do verbo me ajudou a entender o porquê de ele ser reflexivo, diminuindo assim essa sensação de "terror" do seu relato.

Algumas considerações finais:

1) Já havia mencionado no outro tópico sobre verbos reflexivos que é comum o uso de verbos reflexivos quando envolve partes do próprio corpo, tornando desnecessário o uso do pronome possessivo.

"Ich wasche mir die Hände" (ao pé da letra "Eu me lavo as mãos", significando "Eu lavo as minhas mãos").

Alguns livros de alemão enfiam, dessa forma, mais verbos reflexivos goela abaixo dos alunos, forçando-os a aprenderem verbos como "sich etwas waschen" (lavar algo) ou "sich etwas rasieren" (barbear algo) ou "sich etwas schneiden" (cortar algo). Não há a menor necessidade de se "memorizarem" novos verbos. Basta ter em mente que esse tipo de coisa acontece quando envolve uma parte do corpo, a ação for aplicada sobre si mesmo e o pronome reflexivo for uma forma de substituir o possessivo.

Er hat sich die Haare schneiden lassen.  é tão correto gramaticalmente quanto Er hat seine Haare schneiden lassen. 

Ich wasche mir die Hände é tão correto gramaticalmente quanto Ich wasche meine Hände. 

Talvez ajude se pensarmos em português em casos como "Jesus lavou-lhes os pés". Não é reflexivo, mas é um exemplo de um pronome oblíquo sendo usado de uma forma semelhante aos exemplos que dei.

2) Algumas construções verbais podem realmente não fazer o menor sentido em português.

"sich etwas vorstellen" = imaginar algo

Tá, eu sei, é meio esquisita essa construção. Mas o verbo e sua estrutura estão na mesma forma que o verbo "apresentar".

Eu apresento algo/alguém (acusativo) A alguém (dativo).

Ich stelle DIR eine Freundin vor. (Vou te apresentar uma amiga)

Quando esse "a alguém" for o próprio sujeito, o sentido é quase sempre de "imaginar".

ICH stelle MIR vor, dass du gerade hier bist.
(Fico imaginando que você está aqui agora)

Mas pode também ter o sentido de "apresentar", só que nesse caso o pronome reflexivo fica no acusativo:
Darf ICH MICH vorstellen?

De qualquer forma, é a algo a se memorizar, mas não acredito que isso cause terror, ou causa? :-)

Há alguns outros verbos reflexivos que sugerem uma participação mais ativa do sujeito na ação proposta pelo verbo.

Por exemplo: "etwas sehen" não é exatamente igual a "sich etwas ansehen". O reflexivo dá a entender que a pessoa é mais ativa no ato de "olhar", é por isso que às vezes traduzimos como "dar uma olhada". (Já falei sobre esses verbos aqui.)

Para ler o primeiro tópico sobre verbos reflexivos, clique aqui.



2 de fevereiro de 2014

Como usar a vírgula em alemão

Aviso: o tópico é extenso. É melhor você separar um tempo para ler com calma.

Muita gente vinha me pedindo para escrever um tópico sobre o uso da vírgula.
Em alemão a vírgula se chama "Komma", mas na Áustria é também chamada de "Beistrich".

Antes de começar o tópico preciso esclarecer um mal-entendido sobre a vírgula. É comum no Brasil dizerem que a vírgula marca uma "pausa na fala". Não sei se isso é culpa das professoras da escola primária que tentam dar uma explicação fácil para as crianças, mas só sei que essa história de "vírgula" = "pausa" é uma história bem mal contada. Para eu ensinar as regras da vírgula em alemão, gostaria de desfazer o mito dessa equação "vírgula = pausa".

A vírgula não é um fenômeno fonético, mas sintático. Não tem a ver com pausas na fala. Vejamos um exemplo em português.

Você liga pra sua mãe e diz "Oi, mãe". A grande maioria das pessoas não faz nenhuma pausa entre "oi" e "mãe". A vírgula está lá para marcar o "vocativo", ou seja, um chamamento do interlocutor. Seria muito estranho ouvir alguém dizendo "Oi (pausa dramática) mãe".

Outro exemplo: "João, Paulo e Maria foram à escola". Em frases assim as professoras da escola primária costumam exagerar na pausa lendo "João (pausa dramática) Paulo e Maria". Mas na fala normal, muitas pessoas (creio que seja a maioria) não faz essa pausa entre "João" e "Paulo". Para não pensarmos que "João Paulo" se trata de uma pessoa só, a gente pronuncia cada nome de forma tônica, enquanto no caso de uma pessoa com o nome "João Paulo" a gente lê quase como se fosse um nome só "Joãopaulo". Essa historinha da "pausa" é meio furada. A vírgula entra aí para separar termos exercendo uma mesma função sintática. No caso, o sujeito desta oração é composto de três termos independentes, separados por vírgula e pela conjunção "e" antes do último termo. Apenas quis mostrar aqui a ponta do iceberg.

Não vou aqui explicar todas as regras da vírgula do português, mas tenham em mente que, mesmo em português, as regras da vírgula são baseadas em regras de sintaxe ou em ideias da linguística textual (estilo, ênfase de termos etc.), não em regras de pronúncia. (Teria que dar uma lida em todas elas pra ver se há exceções quanto a isso, mas isso não é importante agora, pois o assunto é língua alemã). Percebe-se claramente que a vírgula é usada para indicar determinadas funções sintáticas que certos termos exercem numa frase ou que certas orações exercem num período composto.  Se vírgula fosse pausa, qualquer frase longa sem vírgulas deveria ser lida sem pausa pra respirar. Já pensou?

Com isso em mente, voltemos à língua alemã.

Cada língua define quais termos sintáticos devem ser separados por vírgula, o que nem sempre coincide com o português.

Neste tópico não vou citar TODAS as regras da vírgula. Vou falar principalmente sobre a vírgula entre orações e termos
ou casos que podem causar problemas para falantes de português. Vamos às principais regras do alemão que podem deixar brasucas e portugas confusos:

REGRA 1: Usa-se vírgula para separar a oração subordinada da oração principal. Caso a oração subordinada venha depois da oração principal, põe-se a vírgula antes da conjunção subordinativa ou do pronome relativo (no caso das orações relativas). Caso o pronome relativo seja acompanhado por preposição, põe-se a vírgula antes da preposição.

Como falei antes, a lógica é sintática! Por isso, vale relembrar as aulas de análise sintática.

Uma oração subordinada é aquela que não é independente, pois faz parte de uma oração principal. É fácil reconhecer as orações subordinadas, pois as conjunções subordinativas fazem o verbo conjugado ir pro final da oração.

Em português temos: "Eu sei que ela mora aqui."
No caso "que" é a conjunção subordinativa, a oração subordinada é "que ela mora aqui". Esta funciona como objeto direto do verbo "saber". Perceba que em português não há vírgula.

Em alemão separa-se a oração principal da oração subordinada por vírgula. A vírgula vem ANTES da conjunção subordinativa "dass". O verbo conjugado aparece no fim da oração subordinada.
Eu sei que ela mora aqui.
Ich weiß, dass sie hier wohnt. 

REPITO! Vírgula não quer dizer "pausa". Você pode ler a frase em alemão sem pausa alguma entre "weiß" e "dass". A vírgula aqui marca apenas o início de uma oração subordinada.

Caso a oração subordinada venha antes da principal, a vírgula aparece depois do verbo conjugado, marcando essa separação.

Já que ela se mudou, você pode ficar com a cama na qual ela dormia. 

Aqui temos três orações.
Oração principal: Você pode ficar com a cama na qual ela dormia.
Oração subordinada: Já que ela se mudou (Conjunção: Já que)
Além disso, na oração principal temos uma oração relativa: na qual ela dormia

Sendo assim, em alemão todas estas orações serão separadas por vírgula.

(a) Da sie ausgezogen ist, kannst du das Bett haben, in dem sie geschlafen hat.

Neste último exemplo, ainda seria possível colocar a oração relativa "in dem sie geschlafen hat" logo após o substantivo "Bett", mas eu aprendi que se deve evitar deixar uma palavra sozinha depois da vírgula. É preferível terminar a oração anterior para não deixar uma palavra sozinha depois da vírgula. Mas pra quem quiser saber como ficaria (tanto (a) quanto (b) estão corretos):

(b) Da sie ausgezogen ist, kannst du das Bett, in dem sie geschlafen hat, haben. 

Um período em português com uma única vírgula, pode ter várias vírgulas em alemão, dependendo de quantas orações o compõem. Todas as orações subordinadas (incluindo as orações relativas) são separadas por vírgulas. Além disso, em alemão não se faz a diferença entre oração explicativa (com vírgula) e restritiva (sem vírgula). O contexto pode ajudar. Em último caso pode-se usar também outra pontuação para marcar a oração explicativa (como travessões ou parênteses), caso seja extremamente necessário marcar essa diferença.

Observação: Mesmo nos casos em que a conjunção "dass" pode ser omitida, como ainda se trata da mesma função sintática, a vírgula continua.

Ich weiß, dass sie hier wohnt.
Ich weiß, sie wohnt hier. 


REGRA 2: A vírgula é obrigatória para separar orações reduzidas de infinitivo (Infinitivo + ZU) em alguns casos e facultativa em outros. Na dúvida, use a vírgula. 

Quando houver um "infinitivo + ZU" há de se observar os seguintes casos:

a) Obrigatória quando a oração começar por "um, ohne, statt, anstatt, außer, als":

"Was hast du gemacht, um Deine Angst zu überwinden?"
"O que você fez para sobrepujar/superar o seu medo?"

"Ich habe den Text gelesen, ohne ihn zu verstehen". 
"Li o texto sem o entender"


b) Obrigatória quando o "infinitivo + ZU" for complemento de um substantivo:

"Hast du Interesse, an diesem Projekt teilzunehmen?"

Explicando melhor: A pergunta é "Você tem interesse?". "Interesse" é um substantivo. A pergunta que se faz é "Interesse em quê?". O que vem depois disso é um complemento do substantivo "interesse" (interesse em participar deste projeto). Por isso, a vírgula separa esse grupo "an diesem Projekt teilZUnehmen).

O mesmo valeria para frases com "Hast du Lust, heute ins Kino zu gehen?" (Você tem vontade de ir ao cinema hoje?) A explicação é a mesma. A oração é complemento do substantivo "Lust" (vontade).

c) Obrigatória quando o "infinitivo + ZU" estiver relacionado com um "Korrelat" (por exemplo, "es", "das" ou "da + preposição" como em "damit, darauf, daran etc.")

"Ich liebe es, Deutsch zu lernen".
"Deutsch zu lernen, das mag ich sehr".
"Wir freuen uns darauf, dich zu treffen".

Os "Korrelate" são palavras que indicam que algo foi ou será mencionado em outra oração ou em outra parte do texto. Posso escrever mais sobre isso num tópico futuro.

d) Facultativa nos casos (b) e (c) quando o "infinitivo + ZU" for composto apenas do "verbo" + zu, sem complementos.

"Hast du Lust, Deutsch zu lernen?" -- Aqui a vírgula é obrigatória.
"Hast du Lust(,) zu lernen?" -- Aqui é a vírgula é facultativa, pois o verbo está sozinho com o "zu".

"Ich liebe es, Deutsch zu lernen" -- Obrigatória.
"Ich liebe es(,) zu singen" -- Facultativa.

Nos casos mencionados em (a) a vírgula é SEMPRE obrigatória.

e) Facultativa em quaisquer casos não mencionados.

Por exemplo: Digamos que você queira escrever "Eu tentei aprender alemão".

Ich habe versucht = Eu tentei
Deutsch zu lernen = aprender alemão (Infinitivo + ZU)

Como já mencionei acima, é melhor evitar que uma palavra fique sozinha depois da vírgula, por isso é mais comum não colocar o infinitivo entre "habe" e "versucht". É melhor terminar a frase primeiro. Mas não estaria errado colocar no meio. A pergunta que se faz é: com vírgula ou sem vírgula?

a) Esse grupo começa com "um, ohne, statt, anstatt, außer" ou "als"? Não!
b) "habe versucht" é um substantivo? Não!
c) A oração tem um Korrelat (es, darauf, daran etc.) ao qual a oração reduzida de infinitivo se refere? Não!

Então a vírgula é FACULTATIVA.

"Ich habe versucht, Deutsch zu lernen". ou "Ich habe versucht Deutsch zu lernen"

Quem preferir, pode colocar a frase no meio (apesar de ser menos comum):
"Ich habe, Deutsch zu lernen, versucht" ou "Ich habe Deutsch zu lernen versucht".

Dica: Já que sempre é possível usar a vírgula para o "Infinitiv + ZU", na dúvida, use-a! :-)
Dica 2: Quando sobrar só uma palavra depois da vírgula, prefiram terminar o pensamento antes de continuar. É fácil lembrar de dizer "versucht" depois de uma frase pequena como "Ich habe Deutsch zu lernen versucht". Mas na hora de dizer frases mais longas numa conversa (como "Eu tentei abrir a porta do carro vermelho da minha mãe que estava estacionado na rua Goethe atrás da catedral") vocês vão perceber que é melhor ir terminando os seus pensamentos logo. :-)

Para saber mais sobre o uso de "Infinitivo + ZU", clique aqui.

REGRA 3: Orações adversativas (com aber, sondern, doch, jedoch) etc. são separadas por vírgula. Com outras conjunções coordenativas (und, oder, entweder...oder, weder...noch, sowohl...als auch etc.) não se usa a vírgula. 

Ich wohne in Bremen, aber ich arbeite in Hamburg. (Vírgula antes de conjunções coordenativas adversativas)
Ich wohne und arbeite hier. 
Möchtest du arbeiten oder willst du lieber feiern?
Er möchte nicht arbeiten, sondern feiern. (Vírgula antes de conjunções coordenativas adversativas)

Assim como em português, há casos em que se pode usar vírgula antes de "und". Não vou aqui listar todos os exemplos:

Ich habe gesagt, dass ich kommen würde, und habe mich verabschiedet.

Na frase acima, a vírgula é usada para separar a oração subordinada "dass ich kommen würde", coincidentemente uma vírgula ficou antes de "und".

Além disso, a pessoa pode usar a vírgula antes de "und" (ou de outras conjunções) para facilitar a compreensão:
Der Direktor redet mit seiner Sekretärin, und ihrem Mann gefällt das gar nicht. 

Para evitar facilitar a compreensão de que "ihrem Mann" pertence à frase seguinte, pode-se usar uma vírgula antes de "und" (ou de outras conjunções coordenativas que são usadas sem vírgula).

Quando essas conjunções vierem antes de conjunções subordinativas ou pronomes relativos, a vírgula vem ANTES de todo o grupo.

Eu não gosto muito dela, mas quando estou na sua casa, ela é sempre muito educada.
Ich mag sie nicht so sehr, aber wenn ich bei ihr zu Hause bin, ist sie immer sehr höflich. 


Perceba que a vírgula ficou antes do "aber wenn", não precisa colocar mais uma vírgula antes do "wenn".

Caso seja uma conjunção que não peça vírgula antes de uma oração subordinada, não se usa a vírgula.

Bei Glatteis oder wenn es stark regnet, gehe ich nicht zur Arbeit. 

Antes de "oder" não se usa vírgula. Por isso somente a vírgula ao da oração subordinada é mantida. Se mudássemos a ordem, ficaria assim.

Wenn es stark regnet oder bei Glatteis gehe ich nicht zur Arbeit. 
(Sem vírgula, pois não se usa vírgula antes de oder)
Ich gehe nicht zur Arbeit, wenn es stark regnet oder bei Glatteis. 
(Vírgula antes da oração subordinada iniciada por wenn, mas não antes de oder)

Bem, vou parar de complicar esse ponto 3 e vamos à regra 4.

REGRA 4: Não se usa vírgula para separar os elementos da posição I e II da oração, a não ser que a posição I seja ocupada por uma oração completa. 

Essa é a regra da vírgula que mais faz brasileiros errarem.

Em português, quando trazemos um elemento para o início da frase ou queremos dar ênfase, é comum usarmos a vírgula. Por exemplo:

Infelizmente, você não passou na prova. 

Essa vírgula depois de "infelizmente" não é obrigatória, mas é possível em português.
Em alemão não dá pra fazer isso, pois quando colocamos o "leider" (infelizmente) na posição I, ocorre uma inversão do sujeito e verbo. Não dá pra deixar esse "infelizmente" de fora da oração.

Leider hast du die Klausur nicht bestanden. 
(sem vírgula, pois o "leider" ocupa a posição I e o verbo conjugado ocupa a posição II)

O mesmo vale para todas as outras palavras que ocuparem a posição I:

Heute gehe ich später nach Hause.
In Brasília findet gerade eine Demonstration statt.
Jeden Tag sehe ich fern.

Muitos alunos meus querem colocar uma vírgula para fugir da inversão. Querem fazer coisas do tipo "Jetzt, ich lerne Deutsch" como se colocando uma vírgula o "jetzt" não fizesse mais parte da frase. Isso se chama gambiarra. Mas essa gambiarra não dá certo, pois em alemão o advérbio de tempo ocupa a posição I, não se usa nenhuma vírgula e faz-se a inversão. "Jetzt lerne ich Deutsch".

Exceção 1: Quando a posição I for ocupada por uma oração, usamos a vírgula.

Wenn du zu Hause bist, kannst du mich gerne anrufen.
(Nesse caso toda a oração temporal ocupa o espaço que um advérbio de tempo ocuparia).
Mas se trocarmos por um advérbio de tempo, não se usa vírgula:
Heute Abend kannst du mich gerne anrufen.

Exceção 2: A palavra "also" pode entrar na gambiarra, mas tem uma ligeira diferença.

Also seguido de vírgula = sem inversão. Significa "então, pois bem, olha", num sentido parecido ao "Well,..." do inglês.
Also não seguido de vírgula = ocupa a posição I (tem o sentido de então, logo, portanto etc.) .

"Wir hatten kein Geld, also mussten wir kreativ sein"
(Não tínhamos dinheiro, então tivemos que ser criativos)

Sem vírgula após also. Por isso, a inversão "verbo + sujeito" é feita ("mussten wir")

"Also, ich muss sagen, ich bin mit meinem Handy-Vertrag überhaupt nicht zufrieden".
"Olha, tenho que dizer que não estou nem um pouco satisfeito com meu contrato para celular". 

Vírgula após also. Por isso, a inversão não ocorre ("ich muss").

Para o tópico não ficar grande demais, prefiro ir terminando por aqui. Com isto, já dei uma boa ideia dos casos que dão mais trabalho para estudantes lusófonos. Não vou citar aqui todas as outras regras de vírgula (com datas, com adjetivos, com apostos, com vocativos etc.). Isso vai ficar para um próximo momento.

Quem quiser ler as regras oficiais de ortografia em alemão, é só clicar aqui. As regras da vírgula (e de outros sinais de pontuação) estão explicadas a partir da página 78.

Caso ainda haja perguntas, é só postar nos comentários.