26 de junho de 2014

Polyglottenkongress - Junho de 2014


Sobre o termo poliglota

Você sabe como se diz "Poliglota" em alemão? Mesmo depois de quase 7 anos morando na Alemanha eu não sabia e nunca ouvi ninguém usando nenhuma palavra parecida. Uma ajuda ao dicionário não resolveu, pois as traduções eram quase sempre adjetivos que nunca ouvi serem usados para designar pessoas poliglotas. Resolvi perguntar a uma colega de trabalho alemã que trabalha com línguas. Ela também não sabia. De fato não há uma palavra de uso corrente na Alemanha para designar alguém que falar muitos idiomas.

Veja bem o que acabei de escrever: Não há nenhuma palavra de uso corrente, mas a palavra existe sim "Polyglott". Segundo a Wikipedia, Polyglott "(vom altgriechischen πολύγλωττος (polýglōttos)) nennt man eine Person, die viele Fremdsprachen spricht (auch Multilinguale, Mehrsprachige). Es ist nicht definiert, wie viele Sprachen man wie gut sprechen können muss, um polyglott genannt zu werden."

Ou seja, eles sugerem o termo Polyglott, mas também Multilinguale(r), Mehrsprachige(r). Na verdade, nenhuma dessas palavras é usada no dia-a-dia para designar pessoas. Por isso que foi tão difícil para minha colega dizer algo que use na prática. No geral pessoas que falam muitas línguas acabam dizendo "Ich spreche viele/mehrere Sprachen", em vez de dizerem "Ich bin Polyglott". Mas já que a palavra existe e é o termo técnico que define um poliglota, foi assim que foi traduzido o nome do Encontro de Poliglotas em alemão: Polyglottenkongress.

Falar sobre poliglotas tem tudo a ver com esse blog, pois eu diria que 90% das pessoas que leem esse blog não têm alemão como única língua estrangeira. Nem todo mundo aprendeu alemão como hobby, mas a maioria dos brasileiros aprende alemão como segunda ou terceira língua estrangeira, raramente como primeira. Mesmo os que aprendem alemão primeiro, acabam mais cedo ou mais tarde aprendendo pelo menos inglês. 

Poliglotas na Internet
Abertura do Encontro de Poliglotas
Gostaria de relatar brevemente a minha participação no encontro de poliglotas em Berlim este mês de junho. Todo mundo sabe que eu sou apaixonado por estudar idiomas. Não é à toa que aventurei em aprender um idioma não tão comum no Brasil (especialmente numa cidade do interior do Ceará): o alemão. Já contei também como a minha paixão pelas línguas começou no tópico que conto minha história (aqui).
Desde que o blog começou a fazer mais sucesso comecei a conhecer outros blogs de gente apaixonada por idiomas. A internet fez com que vários aficcionados por línguas estrangeiras começassem a compartilhar sua paixão em fóruns pela internet. Pouco a pouco eu fui me integrando na comunidade de poliglotas espalhadas pelo mundo.
A maioria dos poliglotas famosos na internet têm blogs e sites um pouco motivacionais: ou seja, dando dicas de como aprender línguas, de como melhorar determinadas habilidades linguísticas ou funcionam como troca de informações entre interessados em idiomas. Quem acompanha alguns desses sites como SpeakingFluently do Richard Simcott ou o Fluent in Three Months do Benny sabe do que estou falando. (Havia muuuuuuuuuuuuuuuitos blogueiros conhecidos por lá)

Richard Simcott organizou o primeiro encontro e é um
dos poliglotas mais famosos da internet (e é supersimpático)
O encontro de poliglotas de Berlim já vinha sendo divulgado há vários meses e eu divulguei na nossa página do Facebook umas duas vezes convidando interessados. Logo no início do encontro foi dito que havia pessoas de muitos países, mas citou especialmente o Brasil (Encontrei algumas pessoas lá que foram por causa do blog hehehe)
É o segundo encontro deste tipo na Europa (o primeiro tendo acontecido ano passado em Budapeste). Em outubro deste haverá um terceiro encontro, dessa vez em Novi Sad, na Sérvia. (Quem quiser obter informações, é só acessar http://polyglotconference.com)



Sobre o encontro

Benny falou sobre como viajar
pelo mundo de forma econômica. 
O encontro foi uma ideia da Judith Meyer, uma poliglota alemã que havia participado do primeiro encontro em Budapeste. Logo ela conseguiu reunir algumas pessoas que a ajudaram a organizar o encontro. A ideia veio depois de os organizadores do primeiro encontro terem dito que não haveria nenhum encontro na Europa este ano. Como ela já havia participado de alguns encontros de esperanto, resolver aplicar algumas das ideias para organizar o evento.
O congresso foi realizado num hostel perto da Hbf, assim as pessoas podiam se hospedar junto com outros poliglotas e assistir as palestras lá mesmo. Tudo foi organizado de forma a haver uma alternância entre palestras e momentos de descontração. O almoço era servido lá mesmo, assim podíamos também bater um papo durante a refeição. Houve programas noturnos com apresentação da comida dos diversos países, noite de talentos, jogos sobre línguas etc.
Houve muitas palestras interessantes. A única coisa ruim foi ter que escolher apenas uma de três palestras ocorrendo paralelamente. Não tenho como resumir todas as palestras que vi, pois houve muita coisa interessante. Todo o programa do Encontro pode ser acessado na página oficial: http://polyglotberlin.com/
A língua franca do encontro era o inglês. Mas era um encontro de poliglotas, portanto, nos nossos crachás deveríamos escrever que línguas falávamos, assim as pessoas podiam começar uma conversa numa outra língua. Nesse encontro eu tive a chance de praticar TODAS as línguas que eu já estudei, mesmo aquelas das quais eu estudei só o básico.
Uma das coisas mais legais foi o Alligatorejo - uma ideia retiradas dos encontros de Esperanto. Havia apenas duas regras simples durante o Alligatorejo: 1) Você não pode falar inglês. 2) Você não pode falar a(s) sua(s) língua(s) materna(s). Isso foi muito legal, pois forçou todo mundo a falar numa língua estrangeira. As pessoas podiam até falar português comigo, mas eu só podia responder em outra língua. Nessas horas dava para falar com pessoas de diversas partes do mundo em diversas línguas.
Era obrigatório falar muitas línguas para participar? Não. Bastava ter interesse em idiomas. Havia pessoas lá que falavam apenas UMA língua além da língua materna. Mas saber inglês era de grande valia no encontro, já que a maioria das palestras foi em inglês.
Eles falaram alemão? Sim, apesar de a língua franca ser inglês quase o tempo todo, muita gente falava alemão fluente, então também conversei em alemão com várias pessoas. 
Berlim, como sempre, magnífica :-)
Eu também dei uma palestra lá em alemão sobre dicas para quem quer aprender português depois do espanhol. Não sei se alguém gravou a palestra completa, mas uma leitora do blog me mandou um pequeno trecho em vídeo que eu não vou colocar aqui por pura vergonha mesmo (Não vergonha do meu alemão... é que eu me detesto em fotos e vídeos, desculpem-me!)

Algumas lições que levei comigo do encontro foram:

1) Há vários malucos como eu no mundo que adoram línguas. Muitas pessoas ficam surpresas quando digo que falo 4 idiomas a nível de conversação (quero dizer que consigo conversar com nativos daquelas línguas sobre temas aleatórios). Estou me esforçando para colocar o 5° na lista (francês). Tem pessoas que veem isso como arrogância (vixe, só quer se mostrar!). Bem, lá no encontro eu me senti peixe pequeno. Havia muuuuuita gente que tinha 8, 10, 12 idiomas no crachá. Outros apenas colocavam "Não tem espaço suficiente". Sim, há gente no mundo que é realmente apaixonada por idiomas. Nem todo mundo aprende línguas só por obrigação. Isso é um hobby. Ninguém lá é um gênio das línguas
Lá no encontro eu conheci um belga que fala português e nós vamos agora praticar francês e português pelo Skype. :-) Existem sites que te ajudam a encontrar pessoas para praticar idiomas pela internet. Tentem o italki ou o conversation exchange (mas há outros). 

2) Você tem que se forçar a usar as línguas que você aprende. A ideia do Alligatorejo deveria ser aplicada na vida de todo mundo. Sabe aquele momento em que você quer se expressar, sabe dizer em inglês, em espanhol, em português etc. mas não sabe dizer em alemão? Nessa hora dá uma vontade de dizer logo em inglês pra acabar o martírio. A regra do Alligatorejo era "Inglês é proibido". Dessa forma você tinha que se forçar a dizer isso noutro idioma. Façam isso na Alemanha, pessoal! Falem menos inglês. 


3) De todas as línguas planejadas a que conseguiu mais falantes até hoje foi o Esperanto. Quase todos os poliglotas que foram ao encontro tinha noções de Esperanto. Muuuuuita gente era fluente em Esperanto. É claro que muita gente não leva o Esperanto a sério e eu também acho que o Esperanto nunca vai ser uma língua franca numa escala mundial (com isso quero dizer que acho que nunca haverá mundialmente placas em esperanto nos aeroportos, por exemplo, como hoje há na língua inglesa), mas a língua é relativamente fácil de aprender.. em poucas semanas de estudo já dá pra manter conversas. Se você quiser aprender Esperanto gratuitamente, acesse o site lernu.net ou baixe um curso gratuito para o seu computador clicando aqui. Fortaleza é um grande centro de estudos de Esperanto, por isso eu também estudei Esperanto há muitos anos. O pouco que eu aprendi há mais de 10 anos ainda deu pra usar por lá. Mi parolas Esperanton. Kaj vi? :-) Depois do encontro fiquei com vontade de "ressuscitar" meu Esperanto. 

4) Um orador lá falou: "Você só vai conseguir falar uma língua corretamente depois de ter cometido muitos erros". Ou seja, nenhum dos poliglotas lá pegou um livro, folheou e depois saiu falando a língua fluente sem erros. O que todos queriam alcançar era seus objetivos para a comunicação. Há poliglotas que estudam línguas não para conversarem, mas para lerem. Há poliglotas que, assim como eu, também sabem falar uns idiomas mais do que outros. Isso é normal. Mas independente disso, o importante era usar as línguas para a comunicação. E isso era o mais importante. Foquem na comunicação no alemão. Aprendam alemão pra conversar, não só pra ficar aprendendo regras difíceis de gramática e passar na prova. Lembrem-se sempre disso: Eu quero aprender alemão pra me COMUNICAR com pessoas que falam alemão.

5) É melhor estudar 1 hora por dia durante 6 dias, do que passar dois dias na semana estudando três horas. O contato com a língua deve ser constante. 

6) Não há limite para quantas línguas uma pessoa pode aprender, mas quanto mais línguas você aprende, mais difícil fica manter todas as línguas num nível bom, pois fica difícil falar todas elas com frequência para não esquecer. O contato com o idioma é essencial para mantê-lo vivo na mente. 

Para terminar:
Dicas
1) Em muitas cidades do mundo há grupos para praticar idiomas. Em Fortaleza, há por exemplo o Clube Poliglota de Fortaleza. Para saber dos encontros, clique aqui. Você sabe de grupos na sua cidade?

2) Façam um perfil no CouchSurfing.
É um site para conhecer e hospedar pessoas que estão viajando. Ninguém é obrigado a hospedar pessoas. Às vezes é só mesmo pra conhecer, mostrar a cidade, sair para tomar um café. Se você puder, tente convidar algum(a) alemã(o)/austríaco(a)/suíço(a) para se hospedar na sua casa ou para sair com você enquanto estiver viajando pela sua cidade. Como tudo no site deve ser gratuito, peça-lhe que retribua a gentileza falando alemão com você. :-) Eu uso o CouchSurfing há muitos anos, já conheci muita gente legal, já hospedei e já fui hospedado diversas vezes. RECOMENDO!

Obrigado a todos os leitores e leitoras do blog que me cumprimentaram durante o encontro em Berlim :-)
E você? Também é apaixonad@ por idiomas? Quais você fala? Quais você estuda? Quais você ainda quer aprender? :-) 

2 comentários:

  1. Olá Fábio!

    Adoro sua página! Sempre me incentivou (e até hoje incentiva!) a melhorar o alemao! As postagens do facebook sao ótimas!

    Adorei este post, muito bom ler também sobre o Esperanto. Há anos atrás, quando morava no Brasil, iniciei o estudo da língua e era realmente gostosa de aprender, ainda mais por ser universal!
    Grande abraco e parabéns!

    Camilian
    Destino Munique
    www.destinomunique.com.br

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  2. Nossa! Que legal esse encontro, parabéns pela sua participação e agradeço mais uma vez por suas dicas valiosas ;)

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