25 de setembro de 2014

Como organizar um plano de estudo autodidata

Toda semana recebo mensagens de diferentes pessoas com mais ou menos os seguintes dizeres: "Oi, estou querendo aprender alemão, comprei uns livros, mas não faço a menor ideia de como proceder. Você poderia me dizer como devo fazer um plano de estudo?"

Bem, essa é uma daquelas perguntas que recebo com frequência e que são impossíveis de responder pelos seguintes motivos: como EU posso fazer um plano de estudo para VOCÊ sem saber absolutamente nada sobre você: não sei se você já estudou outra língua de forma autodidata, que materiais você tem à disposição, quanto tempo você tem para se dedicar, se você tem facilidade para aprender idiomas ou não etc. São TANTAS variáveis que acho impossível ajudar as pessoas a organizarem um plano de estudo. E mesmo assim não tenho tempo para dar essa assistência gratuita ... infelizmente... Time is money :-(

Mas posso dar algumas dicas que valem para todos:

1) Não é necessário ter milhares de materiais de estudo
Com a era da internet as pessoas têm acesso a muito material escaneado ou distribuído na internet de forma ilegal. Com essa facilidade de encontrar livros, há muitos aprendizes que saem baixando muitos gigabytes de livros, arquivos de áudio e lotando de materiais HDs internos e externos. Aqueles que ainda investem dinheiro na compra de livros, acabam também comprando muitos livros novos, apesar de já terem vários na estante, sempre na esperança de encontrar O MELHOR LIVRO. Mas a pergunta vale para todos? Qual a porcentagem de todos os livros de ensino de alemão que você tem no computador ou na estante você realmente leu pelo menos uns 80% de seu conteúdo?

Um monte de material de finlandês,
mas sem estudar a língua jamais entrará na cabeça.
Eu não estou condenando ninguém que faz isso. Eu mesmo já cometi o mesmo erro (por impulso). Alguns aqui sabem que eu “estudo” (entre outras) a língua finlandesa (apenas por hobby). Eu tenho mais de 10 livros de finlandês. Claro que eu dei uma “olhadinha” em todos eles. Mas meu nível de finlandês é o A1.1 (ou seja, eu não sei quase nada ainda, sei apenas o básico do básico para conversação). Então de que me adiantam tantos livros de finlandês, se eles ficam apenas como enfeite na estante? Eu DEFINITIVAMENTE não preciso mais comprar livros de finlandês. Falta apenas criar vergonha na cara para estudar.

Então pra começar os estudos escolha UM (no máximo DOIS) livros que você queira usar como método de estudo, ou seja, aquele livro que você vai seguir capítulo por capítulo. Se você tiver mais materiais, deixe-os guardados e use-os apenas para consulta ou para reforçar conteúdos que não ficaram claros no livro que você escolheu para ser o principal. Nada de ficar seguindo 4-5 métodos diferentes com materiais diferentes. Isso parece produtivo, mas cada livro pode seguir uma progressão bastante diferente, trazendo mais confusão.

2) Não existe O MELHOR método
Pare de acreditar que existe O MELHOR método de aprendizado. Isso é papo de marketing de escolas de idiomas. Cada pessoa é diferente e aprende de forma diferente. O que é melhor pra um pode não funcionar com outros. Há pessoas que aprendem lendo, outras estudando gramática, outras viajando pro país e ouvindo etc. Isso varia de pessoa para pessoa. Claro que isso não impede ninguém de buscar dicas de aprendizes de sucesso. Se você já tiver aprendido um idioma, reflita um pouco sobre o que você fez para aprendê-lo, veja as técnicas que deram certo e tente aplicá-las para o alemão. Se alemão for o primeiro idioma estrangeiro, experimente um método e veja se traz resultados. Depois vá utilizando aquilo que dá certo e te deixa motivado e vá deixando de lado as coisas que te deixam confuso. Não acredite que a compra de um único livro ou de um único app vá te levar à fluência. Isso não existe. Mesmo que haja um livro muito bom, a fluência você só vai conseguir quando começar a praticar a língua com os falantes do idioma. Você vai começar cometendo erros. Através dos erros você vai descobrindo seus pontos falhos e voltará aos estudos para tentar aperfeiçoar sua capacidade de falar um idioma. É assim que se faz: estudo - prática - erros - estudo - prática - erros etc. Não fique só nos livros, teste-se usando a língua na prática.

3) Há muitos livros bons de alemão no mercado
Quando se está começando a estudar um idioma, a primeira pergunta que uma pessoa se faz é "Qual livro?" (Hoje em dia também "Qual app?"). Bem, o chato é que 80% das pessoas espera que nós indiquemos um livro maravilhoso e milagroso. E é por essa razão que eu simplesmente não indico livro nenhum. Eu posso ir para uma livraria com alguém para a sessão de Alemão como Língua Estrangeira, tirar vários livros da prateleira e dizer os pontos positivos de cada um (quem morar em Bremen e quiser um dia comigo numa livraria, eu posso mesmo fazer isso rsrsrs).

As principais editoras da Alemanha vivem publicando novos livros de DaF (Alemão como Língua Estrangeira). Todo ano recebo vários catálogos e livros novíssimos prometendo ser o que há de mais moderno e inovador. Na realidade, um aluno de um curso de língua não consegue absorver tudo que um livro contém. É por isso que, na prática, tanto faz qual livro. Você tem que gostar do livro (tem que gostar dos diálogos, achar o livro bonito, interessante, ter vontade de trabalhar com o livro, de fazer os exercícios etc.). Se você GOSTAR de trabalhar com o livro, já é meio caminho andado. Às vezes o livro de que o professor gosta, não agrada aos alunos. Se você for autodidata, escolha um que lhe agrade, que tenha muitos exercícios e que tenha as respostas pra você conferir se está fazendo os exercícios corretamente.

P.S. Escrever à mão traz mais resultados que estudando só no computador. Veja aqui.

4) Trace objetivos antes de começar a estudar
Alice (aquela do País das Maravilhas) encontra um caminho bifurcado. O Gato que Ri aparece. Alice então diz:
- Você poderia me dizer, por gentileza, como é que eu faço pra sair daqui?
- Isso depende muito de para onde você pretende ir - disse o Gato.
- Para mim tanto faz para onde quer que seja...-respondeu Alice.
- Então, pouco importa o caminho que você tome - disse o Gato.

Sei que soa meio piegas, mas a moral é essa mesma. Se você não sabe o que quer aprender, tanto faz qual livro, qual método. Pegue qualquer um e vá estudando de acordo com o que o livro lhe diz que é importante aprender. Mas se você sabe o que quer aprender (por exemplo: você quer passar na prova onDaF, você quer entender filmes em alemão, você quer paquerar um(a) alemã(o) na balada, você quer fazer faculdade na Alemanha, você quer não precisar falar inglês durante uma viagem à Alemanha etc.) Seja qual for o seu objetivo, tenha-o em mente ao começar seus estudos. Se for um objetivo grande, tente traçar objetivos a curto prazo. (Por exemplo: se seu objetivo for não falar inglês na Alemanha mesmo numa viagem a turismo, trace vários objetivos de aprender a se comunicar em todas as situações turísticas: restaurante, estação de trem, perguntar por direções etc.). Se seu objetivo for apenas “falar alemão”, tente ser mais específico... falar alemão pra quê? Com quem? Com gente jovem usando gírias ou com um futuro chefe de uma multinacional? Você quer só saber bater papo no Facebook ou quer ser capaz de escrever uma tese de doutorado em alemão? Tudo isso vai fazer diferença no esforço que você aplicará ao estudar.

P.S. ESCREVA SEUS OBJETIVOS em algum lugar visível. Sempre que for estudar, tenha-os sempre em mente.

5) Seja constante
É melhor estudar 30 minutos diários de segunda a sábado do que estudar três horas uma vez por semana. Quer uma ajuda para ser constante? Instale o app do Duolingo no seu smartphone. O app te lembra todos os dias que você tem que estudar. Se você tiver um nível avançado talvez o app do Duolingo não seja uma boa opção. Nesse caso seria bom ter um livro em alemão para ler nas horas vagas. Melhor ter contato todos os dias com o idioma do que apenas esporadicamente. Planeje um dia de folga nos estudos. Todo mundo merece um dia de descanso.

6) Pare de dizer que você não tem tempo
Você TEM tempo. O problema é que alemão ainda não é sua prioridade. No dia em que isso for prioridade você arranjará tempo. Eu sei que tem gente que tem filhos, família, trabalha o dia todo e depois está exausto para estudar? Mas vamos ser bem sinceros: se a sua agenda está tão cheia de coisas importantíssimas, por que você quer aprender alemão? Pense nos motivos para aprender o idioma e verifique se não dá pra substituir as horas gastas no Facebook ou assistindo à sua série favorita com horas estudando uma língua. Faça uma lista de prioridade. Organize-se. De qualquer forma, ninguém pode dizer o que tem mais prioridade na sua vida, a não ser você. A gente sempre arranja tempo para aquilo que é prioridade.
Se mesmo assim você se vir preso com o seu tempo, tente conseguir cursos de áudio para ouvir no carro/no ônibus/no metrô a caminho do trabalho ou enquanto estiver correndo no parque. Para os que sabem inglês, por exemplo, os cursos de Michel Thomas e do Pimsleur são cursos de áudio bem cotados. As aulas do Pismleur, por exemplo, são de meia hora.

7) Peça a ajuda de profissionais
Sei que a situação financeira de ninguém está fácil. Nem todo mundo tem dinheiro para pagar um curso caro de alemão, mas existem pessoas formadas como professores de alemão, ou seja, gente que estudou vários anos para dar aulas desse idioma. Se você se sentir perdido durante os seus estudos autodidatas, que tal contratar os serviços de um professor particular? Tá, eu sei, professor particular é caro, mas você pode contratar uma ou duas horas para tirar suas dúvidas, ver no que você precisa melhorar ou até mesmo para te ajudar a traçar um plano de estudo. Nem tudo na vida se consegue de graça. O nosso blog oferece muita informação gratuita, mas ainda assim você também pode doar (há um botão à esquerda) caso ache que o trabalho feito aqui seja de qualidade. Tenho certeza de que você não ficará mais pobre se pagar uma hora de aula particular. Valorize os professores. Se na sua cidade não houver professor, verifique a possibilidade de contratar um professor que dê aulas por Skype. Se você fizer questão de contratar um professor nativo, verifique se a pessoa tem o mínimo de formação para dar aula. Nem todo mundo que é nativo de uma língua sabe dar aula daquela língua.

Se você nunca tiver estudado uma língua sozinho, aconselho a procurar ajuda de um profissional pelo menos para lhe dar um rumo nos estudos.

8) Adapte seus estudos às suas necessidades
Não deixe os livros decidirem sempre o que você tem que aprender. No meu curso de português eu uso um determinado livro. Mas eu pulo umas duas lições do livro, pois percebi que o conteúdo que elas abordam é de menos importância para os meus alunos. Há uma lição, por exemplo, em que eles ensinam como reservar quartos em hotéis. É um assunto importante. Bem, meus alunos quase nunca vão ao Brasil a turismo. Geralmente vão fazer intercâmbio. Prefiro ensinar mais tarde aos meus alunos como procurar anúncios de quartos em república pela internet. Isso é uma forma de adaptação da progressão de um livro.
Há livros mais antigos que ensinam como comprar selos no correio e enviar uma carta. Muitos dos jovens nunca enviaram uma carta. Eu já dei aula para uma adolescente que nem sabia para que serviam os selos. Se você vir uma lição que trate exclusivamente sobre os Correios, pode ser que você decida não passar muito tempo nela.
Resumo da ópera: não se sinta obrigado a estudar TODAS as lições de um livro, mas observe pelo menos se naquela lição há conteúdo gramatical relevante antes de passar para a próxima.

9) Faça um balanço entre as competências linguísticas
Aprender um idioma requer aprender muitas habilidades: ler, escrever, falar (monólogo/diálogo), ouvir. Há pessoas que querem aprender uma língua apenas para ler. Outros querem aprender só a conversar, mas não querem escrever muito. O ruim é que os cursos de línguas e os livros didáticos tentam preparar a pessoa para usar todas as habilidades. Ou seja, livros bons têm arquivos de áudio e exercícios para escrever. É importante que você tenha o foco nas habilidades que você mais quer (por exemplo, falar/ouvir), mas se um dia você precisar ser testado sobre o seu nível, esteja ciente de que outras habilidades poderão ser pedidas. Uma pessoa pode entender quase tudo o que se diz, mesmo assim ser um B1+ quando fala e quando escreve tem um A2. Cada habilidade pode se desenvolver de forma independente.
No ENEM/Vestibular, por exemplo, a prova de Redação é uma das provas que elimina muitos candidatos. Estamos falando aqui de falantes nativos de português que não conseguem organizar ideais num texto coeso na língua materna. Pois bem, agora imagine que você consiga chegar num bom nível de conversação em alemão, mas negligencie a parte escrita. Se um dia alguém quiser testar seu nível, pode ser que isso te prejudique. O melhor é treinar todas as habilidades.

Para finalizar: Como organizar um plano de estudo.


1) Pergunte-se primeiro sobre O QUE e POR QUE você quer aprender. Escreva isso num papel (é sério.. escreva o seu objetivo num papel).
2) Depois de saber o que quer aprender, procure materiais. Escolha o livro que mais lhe agradar e trabalhe com ele. Tenha outros materiais (gramáticas, por exemplo) como consulta, mas não siga muitos métodos ao mesmo tempo. Dê preferência a métodos modernos e comunicativos.
3) Tente praticar a língua com falantes o mais cedo possível, pois nenhum livro/app vai te tornar fluente. Cometa erros sem medo. Os erros é que vão te fazer acertar depois.
4) Estude regularmente. O tempo de estudo varia de pessoa para pessoa. Acho que 30 minutos diários sem distrações é um tempo bom e realista para a maioria das pessoas. Desligue o celular durante esse tempo e evite distrações (internet). Dê preferência a livros de papel para evitar distrações.
5) Nos dias em que você não estudar, mantenha o contato com a língua através de músicas, apps etc.
6) Trace objetivos a curto prazo e mantenha sempre os seus objetivos em mente para controlar o seu sucesso.
7) Treine todas as habilidades (falar/ler/ouvir/escrever). Exceção: se seu objetivo for treinar só 1-2 habilidade(s), mantenha o foco nestas, mas não deixe as outras de lado completamente.
8) Peça ajuda esporádica a um profissional para tirar dúvidas ou para que ele avalie o que você já fez e te ajude a traçar um rumo nos estudos.

Bem, espero que essas tenham sido dicas úteis. Agora que você já tem os materiais, mãos à obra.
Quer dicas de gramáticas? Clique aqui.
Quer dicas de dicionários? Clique aqui.
Quer saber onde comprar livros de alemão? Clique aqui.

6 comentários:

  1. Eu estou aprendendo Russo e Italiano, no momento...Meus objetivos, no inicio, era estudar com mais esmero o russo, já que não é um idioma muito intuitivo, enquanto q o Italiano, eu poderia aprender aos poucos...Acho que já seria um começo se eu consegui-se manter uma disciplina minima, de estudar Russo pelo menos 1 vez por semana, e Italiano 2 vezes por mês...Mas nem isso eu to conseguindo...=/

    Mas em geral eu gosto do metodo q eu utilizo (ao menos esse é o caso no Italiano)...Eu expando o meu vocabulário com coisas q eu gostaria de expressar, mas q não necessariamente estão nas apostilas...

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Sim, também sigo esta linha: agrego vocabulário relacionado com coisas que fazem parte da minha personalidade, da minha forma de pensar e da minha vida. Eu prefiro muito mais aprender a como expressar meus sentimentos numa conversa com um amigo em tal ou tal idioma do que decorar os últimos jargões do momento.

      Ademais, eu acho mais produtivo passar a mão em uma boa gramática e estudar conjugação verbal, uso de pronomes pessoais, possessivos e demonstrativos ou as declinações pertinentes aos casos da língua, do que ficar ouvindo horas de música naquele idioma (também é bom, mas sem o estudo prévio da estrutura da língua, eu desanimo). Enfim, este é o meu método.

      Excluir
  2. Eu fiz um intercâmbio de cinco meses na Alemanha, onde aprendi a Umgangsprache e, claro, um bom nível de gramática. Quando voltei, percebi que muito de gramática eu não conhecia. Este site foi a melhor coisa que me aconteceu.
    Em todo caso, vou tentar criar um plano de estudos para me aprofundar nos estudos, juntamente com um curso de alemão particular uma vez por semana. Tenho facilidade para ler notícias em portais de notícias, mas já encontro maiores obstáculos em ler um livro completo.
    Muito obrigado pelas dicas!
    Abraços

    ResponderExcluir
  3. Eu estou aprendendo alemão, e minha introdução ao idioma alemão foi por meio de jogos no idioma, eu escrevo num caderno as opções dos menus, pauso o jogo e procuro no dicionario palavras desconhecidas, etc.
    Na sua opinião, esse método funciona, ou terei de buscar livros mesmo assim?
    E meu objetivo é trabalhar no ramo da política internacional, então esses jogos são focados nesse assunto.
    Obrigado, abraços.

    ResponderExcluir
  4. Eu adoraria aprender alemã, eu sou apaixonada por idiomas diferentes do português.
    Eu comecei a aprender russo pelo skype nessa plataforma:
    https://preply.com/pt/skype/professores--russo

    Mesmo me disciplinando e tentando aprender sozinha, eu sentia falta de conversação, foi por isso que entrei nela.

    ResponderExcluir
  5. Hallo! Escrevo da Áustria, moro aqui há dois anos, tenho 40 anos, meu esposo é Austríaco, mas morou 25 anos no Brasil, onde nos conhecemos, temos muita dificuldade de conversar em alemao, ou seja, meu nível de alemao podia ser bem melhor, mas sinceramente tenho muita dificuldade ainda. Entretanto, já estou trabalhando em um hotel, e já fiz até um curso de Wellness e massagem todo em alemao, até que me saí razoável e na prática fui muito bem, a massagem que faco no hotel é um sucesso. Enfim, mas agora quero muito aperfeicoar meu alemao, quero fazer outros cursos e precisarei de um alemao melhor. Fiz prova de nível A2 e passei com "serh gut". Gostei muito de encontrar seu blog e de ler umas verdades, rsrs, seus puxoes de orelha valem a pena. Vou me organizar e voltar a pegar no material que tenho, quero muito entender, falar e escrever melhor, nessa ordem. Conheci hoje seu blog, vou explorá-lo mais. (estou no teclado alemao, por isso a falta de alguns acentos no texto). Obrigada. Liebe Grüße, Patrícia Giordano.

    ResponderExcluir