1 de outubro de 2014

Der, die, das ou DASS? Eis a questão

Eu me lembro muito bem das minhas aulas de português dos tempos da escola. Nas escolas onde eu estudei, a aula de português se resumia praticamente ao estudo da Gramática Normativa. Às vezes nós líamos alguma obra literária (ou livro paradidático), que também caía na prova. Mas o mais importante da prova era saber fazer uma análise sintática, saber conjugar um verbo irregular na Segunda Pessoa do Plural do Pretérito Mais-Que-Perfeito do Indicativo ou saber classificar uma oração como Oração Subordinada Substantiva Objetiva Direta Reduzida de Infinitivo. Quem soubesse dizer esses nomes gigantescos era porque "sabia português". Dentre as coisas das quais nunca me esqueço das aulas de português eram as das "funções do SE" e "funções do QUE", onde os alunos eram forçados a dizer se um "se" era "uma partícula expletiva ou de realce" ou "índice de indeterminação do sujeito".. entre outras coisas. A pergunta que me faço agora é... você se lembra ainda de todas as funções do "que" em português? :-) Tenho certeza de que para a grande maioria a resposta vai ser "não".

Por isso, gostaria de focar este tópico em apenas DUAS funções do "que".
1) Conjunção Integrante
2) Pronome Relativo

Conjunção Integrante
O que a gramática normativa brasileira chama de "conjunção integrante" é uma "conjunção subordinativa", ou seja, ela inicia orações subordinadas - no caso orações subordinadas substantivas (você ainda sabe o que é isso?)

a) É bom que você esteja aprendendo alemão.

Nesse caso é uma oração na função de sujeito. O que "é bom"? Que você esteja aprendendo alemão

b) Eu sei que você não gosta de estudar alemão.

Nesse caso é uma oração na função de objeto direto do verbo "saber". "Eu sei" o quê? Que você não gosta de estudar alemão.

Em ambos os casos acima, o "que" é uma conjunção integrante.

O conectivo alemão que equivale ao "que - conjunção integrante" é o DASS. Por ser uma oração subordinada, o verbo conjugado vai para o fim da oração.

É bom que você esteja aprendendo alemão.
Es ist gut, dass du Deutsch lernst. 

Eu sei que você não gosta de estudar alemão.
Ich weiß, dass du ungern Deutsch lernst. 

Nesse último caso, a conjunção "dass" também poderia ser omitida, mas sobre isso já foi falado em outro tópico (clique aqui)
Se você quer saber por que se usou uma vírgula antes de "dass", pode ler sobre o uso da vírgula aqui.

Pronome Relativo
O nome "relativo" vem da palavra "relação", ou seja, é um pronome que faz uma relação / está relacionado a outro elemento da oração.

Vejamos o exemplo:
Aqui está o homem que me ajudou ontem.

Reparem que o "que" desta oração faz referência ao substantivo "homem" anterior a ele. Isso ajuda a evitar a repetição do substantivo.

Aqui está o homem. O homem me ajudou ontem.
Aqui está o homem QUE me ajudou ontem.

Aqui está a mulher. A mulher me ajudou ontem.
Aqui está a mulher QUE me ajudou ontem.

Dá para entender o que é um pronome relativo? :-)

Pois bem. Traduzamos as duas frases para o alemão.

Hier ist der Mann. Der Mann hat mir geholfen. 
Hier ist die Frau. Die Frau hat mir geholfen.

Aqui começam os erros dos aprendizes de alemão de língua portuguesa. Conheço muita gente que usaria a conjunção "DASS" nesses casos também.

Hier ist der Mann, DASS mir geholfen hat.  (ERRADO)

Esse erro é bastante comum entre falantes de português. O motivo é simples: a conjunção "DASS" é uma das primeiras palavras que os estudantes aprendem. Tem-se a impressão de que sempre se usa "DASS" quando em português se diz "QUE". Mas não é bem assim (infelizmente).

Os pronomes relativos em alemão variam (INFELIZMENTE) em gênero, número e caso. A tabela dos pronomes relativos é praticamente igual à dos artigos definidos. As diferenças estão principalmente no caso genitivo e no dativo plural. Se você já souber os artigos definidos, saberá qual pronome usar.  Por exemplo: os artigos definidos no nominativo são:

masculino: der
feminino: die
neutro: das
plural: die

Pronto. Facílimo. Os pronomes relativos têm a mesma forma :-) Ou seja, o que em português é dito sempre com uma palavra "QUE", em alemão vai variar conforme o gênero e número do substantivo ao qual se refere e vai variar conforme o caso que o pronome exerce na oração.(Percebam que o verbo conjugado também vai para o fim da oração e as orações são separadas por vírgula)

Exemplos:
Hier ist der Mann. Der Mann hat mir geholfen. 
Hier ist der Mann, der mir geholfen hat.

Hier ist die Frau. Die Frau hat mir geholfen.
Hier ist die Frau, die mir geholfen hat. 

Digamos que a oração fosse: "Aqui está o homem que eu ajudei". Veja que em português o pronome é sempre "que".

Nesse caso, teríamos que pensar em como se diz "Eu ajudei o homem" para saber qual pronome relativo usar. Como o verbo helfen se usa com o caso dativo, a frase ficaria "Ich habe dem Mann geholfen"

Hier ist der Mann, dem ich geholfen habe. 

Tá, eu sei. É um saco isso. É uma só palavra em português (que) e mais uma vez você terá que saber se um substantivo é "der", "die" ou "das" para dizer uma mísera palavrinha que une as duas orações. Mas pense por outro lado. Se você tivesse que repetir o substantivo, também teria que saber o gênero, número e caso. Portanto, aceita que dói menos :-)

Por que os cursos ensinam as orações relativas tão tarde?
Não sei bem a partir de que semestre os alunos são apresentados às orações relativas, mas acredito que seja algo entre o fim do A2 e o B1. O problema é que para realmente dominar as orações relativas, o aluno precisa dominar também não só os gêneros das palavras, mas também os casos (nominativo, acusativo, dativo e genitivo). Isso faz com que esse conteúdo apareça bem mais tarde. 

Só que eu, particularmente, acho isso muito problemático por duas razões principais:
1) Quando os alunos aprendem orações relativas, a maioria já vai ter passado meses sempre usando "DASS". Há um grande perigo de esse erro se fossilizar (fossilização quer dizer repetir uma forma errada tantas vezes que fica difícil se acostumar com a forma correta mais tarde).
2) Orações relativas são uma ENORME ajuda para quem ainda fala pouco alemão. Apesar de parecer complicado no início, elas são úteis para descrever coisas quando lhe faltarem as palavras. Digamos que você não saiba como se diz a palavra "colher" em alemão. Bastaria descrever "É aquela coisa que a gente usa para tomar sopa, para levar a sopa a boca". Esse "que" é um pronome relativo. A meu ver, um aluno do A1-A2 já deveria ser capaz de descrever para que servem objetos com palavras simples para ajudá-los a suprir a falta de vocabulário. 

Existem outros tópicos sobre orações relativas no blog, mas aqui vocês já podem ver a tabela comparativa entre artigos definidos e pronomes relativos. Percebam que ela é quase igual, a não ser no genitivo e no dativo plural. 


Pensem bem antes de usar um "DASS" quando você quiser dizer "que". Pode ser que esse "que" seja na verdade um "der", ou um "die", ou um "den", ou um "das", ou um... :-)

Para ler os tópicos sobre orações relativas caso a caso, comece clicando aqui.

18 comentários:

  1. Adorei, em especial a tabelinha e o bom humor nas explicações. I hatte dia Dativ Plural vergessen! Ainda não o genitivo, mas ele deve equivaler ao WHOSE do inglês, richtig?

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  2. Excelente a tua explicação!
    Você é demais!

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  3. Excelente explicação!
    Você é demais!

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  4. Incrível como consegues colocar de forma clara e interessante as tuas matérias. Agradeço a cada novo post. Obrigado!

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  5. Não entendi muito bem esse negocio de Reflexive Verben e Reflexive Gebrauchten Verben, nesse blog sempre entendo as explicações e ainda não vi nada a respeito desse assunto, será que podiam dar uma dica?
    Bei einigen Verben kann das Akkusativobjekt bzw. das Dativobjekt dieselbe Person bezeichnen wie das Subjekt, bezieht sich also auf das Subjekt zurück. Dann ist das Verb reflexiv (rückbezüglich) gebraucht. Das Akkusativobjekt bzw. das Dativobjekt wird dann durch ein Reflexivpronomen (mich – mir, dich – dir, sich – sich …) ausgedrückt, z. B.:
    Ich frage mich, warum das so ist.
    Du hilfst dir damit nicht.
    Bei reflexiven Verben steht das Reflexivpronomen meistens im Akkusativ (Ausnahme z. B.: sich (Dat.) merken) und verändert sich (wie auch bei reflexiv gebrauchten Verben) in Abhängigkeit von der grammatischen Person des Subjekts, z. B.:

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  6. Ótimo post! Suas explicações são sempre fáceis de compreender.

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  7. Este blog e soberbo:-))Tenho aprendido muito aqui na verdade combino a aprendizagem da Lingua Alema no Deutsche Welle e aqui no seu blog.Obrigado voçe e um bom professor!

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  8. Não sei se eu entendi muito bem, mais por exemplo:
    Ich will dass ihr mir verglaubt
    Está certo o uso do '' dass '' nessa frase ( Na verdade, é um verso de uma música, o nome dela é Ich Will da banda Rammstein, vale a pena ouvir...) ??

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    1. Essa música é muito boa!! Mas acho que é só glaubt e não verglaubt. ;)

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  9. Este comentário foi removido pelo autor.

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  10. Obrigada pela ajuda, seu blog é o melhor para ajudar no aprendizado da língua alemã!!

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  11. Comecei essa semana parece tudo tão complicado, mas vamos que vamos...

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  12. Parabéns pelo empenho em divulgar um material extremamente claro e com bom humor.

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  13. Excelente explicação!!!Muito obrigada!

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  14. É incrível como vc consegue transmitir o conhecimento pela escrita. É sensacional! Coisa de mágico.

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  15. Muito muito obrigada! Uma explicação simples e clara... pedindo o básico de conhecimento do português. Mas mesmo assim tenho certeza quem não aprendeu análise sintática entendeu sua explicação. Que demais.... depois de tantos anos seu posting ainda esta ajudando as pessoas. Obrigada

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