1 de abril de 2016

1° de abril - As cinco maiores mentiras sobre a língua alemã

Hoje é Dia da Mentira, mas o tópico a seguir serve para desmentir mentiras.
Aviso: o texto abaixo não é mentira de primeiro de abril. É sério! :-)

1) Alemão é a língua mais difícil do mundo
Muitos dos falantes do português reclamam que alemão é muito difícil antes ou depois que começam a estudar. Ficam dizendo frases do tipo "Uma vida não é suficiente para aprender alemão" e ficam usando a "aparente dificuldade" da língua para justificar os seus erros ou justificar a sua incapacidade de falar alemão. Claro, a culpa é apenas do idioma, né?
Pura balela! Alemão não é a língua mais difícil do mundo (nem o português o é).
O termo "língua difícil" é totalmente relativo.
Não tenha medo do alemão!
- Difícil pra quem? Um holandês talvez não ache alemão tão difícil assim, afinal ele consegue sem curso nenhum entender muita coisa do alemão falado e escrito. Há coisas da língua alemã que são muito mais fáceis que em inglês, por exemplo: a pronúncia é muito mais regular, não há gerúndio (simplificando bastante os tempos verbais) etc. Eu sei que existem algumas coisas que podem ser consideradas complicadas, mas se considerarmos cada uma delas separadamente, você verá que nenhum dos fenômenos é exclusividade do alemão.
- A mais difícil do mundo? Tenho a impressão de quem afirma isso acredita que o mundo deve ter umas 20 línguas, no máximo. No Brasil, a maioria tem contato com inglês e/ou espanhol como primeiras línguas estrangeiras. Quando alguém se aventura em outros idiomas, os mais comuns acabam sendo francês, italiano ou alemão. Sendo assim fica fácil entender por que os brasileiros pensam que é a mais difícil: línguas românicas (francês, italiano, espanhol) são mais fáceis, pois são mais próximas do português. Inglês tem uma gramática simplificada e somos bombardeados com o idioma diariamente. É claro que alemão passa então a ser a "mais difícil" de todas. Mas o mundo não se constitui apenas desses idiomas. Fale com estudantes de russo, de finlandês, de húngaro, de japonês, de coreano, de árabe etc. antes de sair afirmando que alemão é a mais difícil. Alemão é uma língua indo-europeia e também tem muito mais semelhanças com o português do que a maioria das línguas que citei anteriormente.
Mesmo as "temíveis" declinações são mais difíceis em latim que em alemão. Já falei sobre isso aqui. Então: FALSO! Alemão não é a língua mais difícil do mundo. (Português também não!). Talvez seja apenas a língua mais desafiadora que você já estudou até agora. Apenas isso. Difícil é um conceito completamente relativo. O que é fácil pra uns pode ser difícil pra outros.

2) Alemão só tem palavras gigantescas
Tá! Alemão tem umas palavras grandes, sim. Mas eu desafio você a contar quantas palavras realmente grandes há num texto alemão. Abra qualquer site jornalístico e saia contando quantas palavras-monstro foram usadas. Verá que não serão tantas quanto apregoam por aí. E o que seria uma palavra grande? Eu mesmo já usei diversas palavras com mais de 10 letras no meu texto (semelhanças, anteriormente, desafiadora, estrangeiras, exclusividade etc.). A partir de quantas letras uma palavra pode ser considerada grande? E esta aqui do português: Pneumoultramicroscopicossilicovulcanoconiose?
Alemão tem muitas palavras curtas também.

Se você ainda acha que são só essas, dá uma olhadinha neste álbum aqui.
E se você quiser entender como são formadas as palavras grandes do alemão, clique aqui.

FALSO! Alemão tem muitas palavras curtas. Em textos jornalísticos palavras com mais de 15 letras não são tão comuns quanto costumam dizer.

3) As pessoas parecem brigar quando falam alemão
Alemães parecem brigar quando falam. Acho que quem diz isso acha que todos falam como Hitler. É uma das únicas explicações plausíveis para essa afirmação.
Os sons fortes feitos na garganta também dão aquele tom meio ríspido à língua alemã, eu sei.

Mas pra derrubar esse mito, eu acho que as pessoas precisam ouvir mais meninas falando alemão e menos Hitler. Veja um pouco do vídeo abaixo e me diga se parece que estão brigando.



Sobre uns vídeos que rolaram pela net sobre o modo ríspido de se falar alemão, já comentei aqui.

4) Alemão não é uma língua musical 
Tá. Línguas que têm palavras com mais vogais têm muito mais vantagem na hora de cantar.
Concordo... alemão não é uma língua musical. Mwahahahahaha...

Deixo com vocês o Ode à Alegria (Ode an die Freude) ...


... A Rainha da Noite (Die Königin der Nacht) de Mozart, da ópera A Flauta Mágica (Die Zauberflöte)...


... Stille Nacht (Noite Feliz) com texto original em alemão...


... uma música moderna em alemão...


...e pra fechar com chave de ouro, vai um clássico de Chico César em alemão:


Sim, alemão não é uma língua musical. Mwahahaha! :-)
Para mais músicas em alemão, clique aqui.

5) Alemão não serve pra nada
Ay, gente! Isso me cansa tanto. Aquele pessoal que vem dizer: "pra que você está estudando alemão? Hoje em dia o mundo fala inglês. Alemão não serve pra nada."
Inglês é uma língua importantíssima. Eu aprendi inglês antes de alemão e sugiro que todo mundo faça o mesmo, porque num mundo globalizado inglês é imprescindível. Mas é como eu sempre digo: inglês é obrigação, alemão é diferencial.
Mesmo que você não more na Alemanha e alemão não seja uma língua necessária no seu emprego, alemão pode servir para muitas coisas:
- enriquecer o seu conhecimento de mundo: há muita coisa publicada em alemão sem tradução para o português, entre filmes e livros. Ler e ouvir coisas na língua original te ajuda a entender melhor o mundo através de outros pontos de vista. Ex.: A Alemanha é um país com uma história moderna bastante importante no cenário mundial. Há muito materiais escritos em alemão sobre a história da Alemanha disponíveis só em alemão.
- ver que o mundo não são só os EUA: apesar de inglês ser falado em diversos países pelo mundo, o Brasil consome quase tudo que vem dos EUA e tem uma perfeita adoração pelo American Way of Life. Aprender alemão pode servir para abrir os olhos para outros lugares e outras realidades.
- facilitar o aprendizado de outros idiomas: se você gosta de aprender idiomas, a cada idioma que aprendemos os próximos ficam um pouco mais fáceis. Você terá um repertório maior de palavras e estruturas gramaticais para comparar.
- viajar: numa viagem a turismo a um país onde se fala alemão, você poderá visitar museus onde as explicações das exposições ainda não foram traduzidas, não ficará perdido na plataforma da estação de trem quando derem algum aviso apenas em alemão, vai vivenciar o país de uma forma mais completa.
- portas abertas para futuras oportunidades: você nunca sabe quando a oportunidade surgirá de vir pra Alemanha através de bolsas de estudos ou empresas multinacionais alemãs com vagas disponíveis apenas para quem tem conhecimentos de alemão.

Além disso as pessoas que dizem isso normalmente são aquelas que só aprendem idiomas por obrigação. Eu respeito todo mundo que não aprende alemão porque não vê nenhuma utilidade prática na sua vida diária. Mas por favor entendam que nem todo mundo quer morar na Alemanha. Há pessoas que estudam línguas por puro prazer e outras estudam para ler livros no original, por exemplo. Nem todo mundo estuda idiomas por sobrevivência.
E eu nem preciso aqui dizer pra que serve alemão se você morar num país de língua alemã, né?

Quando alguém vier contar alguma dessas mentiras pra você, responda:

7 comentários:

  1. Meu contato com a língua alemã foi durante meu intercâmbio em Nordrhein-Westphalen, portanto nunca comprei nenhuma dessas mentiras. Eu creio que as pessoas gostam de achar o alemão uma língua inalcançável, porque é uma língua de sons estranhos à nossa. O português é mais musical, o sons saem redondos; o alemão parece que sai com dificuldade, arranhando tudo. Eu sempre que digo que se fosse uma língua impossível, ela nem existiria, tudo depende do esforço e da dedicação de cada (e uma temporadinha fora também ajuda infinitamente).

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  2. As palavras primitivas ou são monossílabos ou são dissílabos. Palavras "compridas" são compostas sem hífen. Ou compostas por prefixos ou sufixos. Ou de etimologia estrangeira: Revolution, Restaurant. - Compreendido isto, não faz sentido em falar de palavras longas. Sou bilingue com alemão materno, nenhum mais fácil/mais difícil. O segredo é ler muito e tentar falar. Aprendi português com 13 anos, tropeçando e errando, mas aprendi. Ah! "sein" = ser e estar. E falar o "ão" de pão sem dizer pau

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  3. Rsrs ah mas é difícil esse idioma sim, mas oque não é difícil nessa bida né. Mas mega concordo que vemos como mais difícil por conta de ser o idioma mais difícil que normalmente conhecemos. Mandarim é o capeta tb... Kkkkkk Mas to aqui na luta e ainda aprendo esse trem. Kkkkkkk

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  4. Pois é... o mais engraçado é que o alemão, diferentemente do português, se forma de um jeito lógico. Sobre a dificuldade do idioma, concordo ser relativo, mas se pensarmos na variedade de declinações, por exemplo, o finlandês possui 16. Alguns idiomas na África são praticamente impossíveis de se aprender a falar corretamente por qualquer um que não seja nativo, pois devido aos "golpes de glote" nego vai causando lesões e calos nas cordas vocais, que auxiliam na pronúncia.... chinês, além de usar outro alfabeto, é tonal... enfim... perto desses o alemão é fácil. O maior problema, pra mim do alemão é o vasto vocabulário, devido à sua natureza bem descritiva.

    De resto, parabéns pelo site... vez ou outra venho aqui tirar alguma dúvida...

    Abs

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  5. Amei este post!! me diverti vendo os videos... Nunca tinha parado para procurar musicas em alemao... rsrsrs :D

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  6. Quando fiz a prova a fim de obter o certificado do Mittelstufenprüfung do Instituto Goethe, há uns 15 anos, aqui no Rio de Janeiro, perguntei a uma professora alemã criada no Brasil qual das duas línguas ela achava mais difícil, e ela respondeu sem pestanejar: "O português". "Por quê?, eu quis saber, curioso. "Porque", ela justificou, "a língua que se aprende nas salas de aula não é a mesma que se fala nas ruas." Bem, tratava-se da opinião dela. Como estudei alemão na Volkshochschule Oberhausen por dois semestres e depois continuei sozinho, em casa - tendo um atestado médico como justificativa para não ir às aulas e só indo ao curso para fazer as provas -, reconheço que tanto o português quanto o alemão têm pontos gramaticais bastante complexos. O próprio Fábio admite que as declinações latinas são bem mais difíceis. As russas também são complicadíssimas. O alemão tem apenas três declinações: forte, fraca e mista, com quatro casos cada uma. Assim, quem tiver aprendido bem as declinações forte e fraca não terá a menor dificuldade de aprender a mista. Quanto à prova do Instituto Goethe, só no dia, poucos minutos antes de entrar na sala onde ela seria realizada, alunos do próprio Instituto me explicaram o que me esperava. Senti um frio na barriga, porque não tinha me preparado para a prova (TODOS eles tinham feito um curso preparatório paralelamente ao curso regular). Mas eu não precisava daquele certificado. Tinha sido uma OPÇÃO minha tentar obtê-lo. Eu não precisava provar nada a ninguém era a busca de uma satisfação pessoal. Assim, muni-me de coragem (afinal, já tinha pago a taxa de inscrição, e estava ali, numa ensolarada manhã de sábado, esperado anunciarem "Foi dada a largada!", e encarei o desafio. E para minha surpresa, entre os inscritos externos, obtive o melhor resultado. A exemplo do Fábio, não digo isto para me gabar, mas para dar mais um testemunho de que com esforço e disciplina tudo é possível. Alguém aqui comentou que o alemão é uma língua lógica. Sim, concordo: extremamente lógica, de uma lógica quase matemática, precisa, exata. Eu odiava o alemão quando cheguei à Alemanha. Estudava com afinco, tinha um desempenho muito acima da média, mas aquilo era uma tortura para mim. Até o dia em que fui a uma noite dedicada ao Brasil no Luise-Albertz-Halle e ouvi uma senhora contar lindamente, como se estivesse declamando um poema, uma lenda indígena sobre como o colibri tinha adquirido aquelas cores deslumbrantes. Foi como se uma corrente elétrica tivesse percorrido meu corpo e derretido meu coração. A partir daquele momento, caído por terra meu bloqueio em relação à língua falada (passando a ouvir o alemão numa espécie de outro diapasão), comecei a me comunicar em alemão sem medo de errar. Cometia erros engraçados - não era bem isto, mas algo do tipo confundir "scheissen" com "schiessen") -, agradecia a quem me corrigia, perguntava se o que eu acabara de dizer estava certo, e algum tempo depois comecei a sonhar em alemão. A língua se tornou uma espécie de segunda pele para mim, embora eu me ocupe diariamente do inglês, por horas a fio, por força do meu ofício de tradutor. Não tenho mais interlocutor. Meu tempo é escasso e quase não leio ou assisto a filmes em alemão. Mas a língua está vivíssima e grita estridentemente dentro de mim. Tenho certeza de que será um eterno caso de amor. Para encerrar - já me alonguei demais -, não acredito incontestavelmente em línguas quase impenetráveis, impossíveis de aprender, como o árabe, o mandarim ou o finlandês, para citar apenas três. Acredito, sim, nas metas pessoais e na capacidade de cada ser humano se superar. Parabéns, Fábio, pelo seu extraordinário trabalho! Parabéns por desmitificar o alemão - e, de resto, quaisquer outras línguas, por mais difíceis que sejam! Parabéns pela humildade e pelo prazer de compartilhar o que aprendeu. Toda a sorte do mundo para você, onde quer que esteja.

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